domingo, 19 de março de 2017

Paraninfando em tempos sombrios

(na formatura do curso de Jornalismo do Centro Universitário de Brasília, anteontem)


"Senhoras e senhores aqui presentes,

Boa noite!

Fui convidado pela turma de Jornalismo desta formatura para ser seu paraninfo. Os dicionários, em geral, registram dois significados básicos para esta palavra.

No primeiro sentido, paraninfo significa o indivíduo escolhido pelos formandos para ser homenageado por eles na sua cerimônia de colação de grau. No segundo sentido, paraninfo significa o indivíduo capaz de defender ou apoiar uma ideia, uma tese, uma causa. Nos dois casos, o paraninfo tanto fala para os formandos quanto fala pelos formandos, nesta ocasião especial que é a sua formatura. Isto é o que pretendo fazer agora.

Começo pelo primeiro significado do ser paraninfo. Inicialmente, gostaria de agradecer aos formandos a honra que me concederam. Foram três anos e meio de convivência intensa, com os altos e baixos típicos das relações prolongadas, complexas e difíceis. Ao final, o que de fato importa é que vocês concluíram essa trajetória com sucesso, sendo esta a razão de estarmos aqui, celebrando juntos o triunfo de vocês.

Importa também reconhecer, e agradecer, o apoio inestimável que vocês tiveram dos familiares, dos amigos, e das demais pessoas que estiveram com vocês durante esse processo. Muitas vezes, falhamos em reconhecer devidamente o papel das pessoas que nos amam para o nosso sucesso; especialmente as pessoas que se fazem presentes nos momentos difíceis. Quando vencemos, tendemos a achar que o mérito é individual, diminuindo a importância do chamado 'entorno' para a nossa vitória. No entanto, as pessoas que bem nos cercam - na família, na escola, na vida - são fundamentais. Elas são sempre fundamentais.

Por isso, parabéns aos pais, familiares, amigos e amores destes formandos! Parabéns aos professores e funcionários do UniCEUB envolvidos com a formação desta turma! Parabéns a todos que participaram, de alguma maneira, deste processo bem-sucedido!

Pois bem. Passo agora ao segundo significado do ser paraninfo. Se nesta noite falo para os formandos e pelos formandos, a única ideia que neste momento me cabe defender é a do Jornalismo, a ideia do melhor jornalismo - aquele jornalismo que cumprirá aos formandos desta noite, a partir de amanhã, realizar. Este é o jornalismo que eles, em tese, aprenderam na faculdade. Também é o jornalismo afirmado e reafirmado nas centenas de códigos de ética jornalística que apareceram nos últimos 120 anos, em diferentes lugares do mundo.

Serei objetivo.

O melhor  jornalismo é aquele que tem como base o direito fundamental do cidadão à informação de relevante interesse público. O exercício deste direito - e portanto, deste jornalismo - não pode ser impedido por nenhum interesse menor, particular ou privado.

O melhor jornalismo é aquele comprometido com a verdade factual, de relevante interesse público. Para que este compromisso seja realizado, as respectivas liberdades de expressão e de imprensa, direitos e pressupostos do exercício do jornalismo, implicam compromisso com a responsabilidade social do jornalista, inerente à profissão. Tais compromissos não podem ser impedidos por nenhum interesse menor, particular ou privado, corporativo ou partidário.

O melhor jornalismo é aquele comprometido com as condições estruturais e conjunturais que lhe dão sustentação, as quais, por sua vez, são sustentadas pelo melhor exercício deste jornalismo. Ética, liberdade, responsabilidade; compaixão, sensibilidade, humanidade; respeito à pluralidade das opiniões e perspectivas; respeito à diversidade dos modos de vida. Compromisso com direitos e deveres que só se realizam plenamente no âmbito da democracia.

O melhor jornalismo é aquele que defende a democracia, porque dela depende visceralmente. No nosso caso, o melhor jornalismo é aquele que defende a nossa democracia - seus valores, suas instituições, e as práticas democráticas da cidadania. Vivemos um período histórico no qual a nossa democracia, tão duramente conquistada, se encontra ameaçada por interesses menores, mas poderosos, neste exato momento empenhados na revogação dos nossos direitos civis, políticos e sociais. Como a história reiteradamente nos tem mostrado, quem acabará pagando mais por isso serão aqueles menos favorecidos, mais vulneráveis, e portanto com menos condições de se defenderem.

Num momento como este, o melhor jornalismo é aquele que defende os interesses mais importantes do conjunto da cidadania. O exercício deste jornalismo é o que, de coração, eu mais desejo a vocês, queridos formandos e formandas!

Porque dele muito precisamos.

Parabéns e muitas felicidades!

Obrigado."

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