quinta-feira, 28 de junho de 2007

"Dias eleitos"

uma saudade ainda alegre, com a ajuda de Roland Barthes

"FESTA. O sujeito amoroso vive todos os encontros com o ser amado como uma festa.

1. Festa é aquilo que esperamos. O que espero da presença prometida é uma soma inaudita de prazeres, um festim; jubilo como a criança que ri ao ver aquela cuja simples presença anuncia e significa uma plenitude de satisfações: vou ter diante de mim, para mim, a 'fonte de todos os bens'.

'Vivo dias tão bem aventurados como aqueles que Deus reserva a seus eleitos; e venha o que vier, não poderei dizer que as alegrias, as mais puras alegrias da vida, não as terei eu experimentado.' [Werther]

2. 'Naquela noite - tremo ao dizê-lo! - apertava-a em meus braços, estreitamente cerrada contra meu peito, cobria de beijos sem fim seus lábios que murmuravam palavras de amor, e meus olhos se afogavam na embriaguez dos dela! Deus! seria eu digno de punição por ainda agora experimentar uma celeste felicidade ao me lembrar daquelas ardentes alegrias, revivê-las no mais profundo de meu ser!' [Werther]

A Festa, para o Amante, o Lunar, é uma jubilação, não uma explosão: gozo o jantar, a conversa, o carinho, a promessa clara do prazer: 'uma arte de viver por sobre o abismo'.

(E acaso nada significa, para você, ser a festa de alguém?)"

Roland Barthes, Fragmentos de um discurso amoroso. Tradução de Márcia Valéria Martinez de Aguiar. São Paulo: Martins Fontes, 2003, pp. 197-198.

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