Novamente o calendário
é uma peça de vestuário
de efêmera qualidade
diante da publicidade;
adiante, outro itinerário
da mesma modalidade
promete-se necessário
(não obstante arbitrário)
como se anuário ao contrário!...
quarta-feira, 31 de dezembro de 2014
terça-feira, 30 de dezembro de 2014
OLINDA
Desde os quinhentos
pelos seiscentos
e setecentos
eram trocentos
de aventureiros
a açucareiros;
de portugueses
a brasileiros
desde os flamengos
foram trocentos
do seu mosteiro
ao seu convento;
dos oitocentos
aos novecentos
de bonecos mamulengos
aos bonecos gigantescos
sobre as casas centenárias
pelas ruas madrugadas
já são trocentos
mais de batuques coroados
e metais ensolarados...
Sempre aos trocentos:
- pois a história deste lugar
é proletária e popular.
pelos seiscentos
e setecentos
eram trocentos
de aventureiros
a açucareiros;
de portugueses
a brasileiros
desde os flamengos
foram trocentos
do seu mosteiro
ao seu convento;
dos oitocentos
aos novecentos
de bonecos mamulengos
aos bonecos gigantescos
sobre as casas centenárias
pelas ruas madrugadas
já são trocentos
mais de batuques coroados
e metais ensolarados...
Sempre aos trocentos:
- pois a história deste lugar
é proletária e popular.
segunda-feira, 29 de dezembro de 2014
domingo, 28 de dezembro de 2014
QUADRA TSÉ-TSÉ
Sono à tarde, cedo ou tarde
vento contra, toma tempo
desde cedo, todo ou parte
deste sonho, desatento...
vento contra, toma tempo
desde cedo, todo ou parte
deste sonho, desatento...
sexta-feira, 26 de dezembro de 2014
CORRENDO EM BOA VIAGEM
Dia sim dia não
venho de Jaboatão;
dia sim dia não
estou no calçadão
quase em movimento
(impressão do vento?)
sob um certo peso
deste firmamento
(de Nordeste ao centro)
até que o momento
(de antemão presente)
imponha que eu pense
no que ressinto então:
- podia ser sempre...
venho de Jaboatão;
dia sim dia não
estou no calçadão
quase em movimento
(impressão do vento?)
sob um certo peso
deste firmamento
(de Nordeste ao centro)
até que o momento
(de antemão presente)
imponha que eu pense
no que ressinto então:
- podia ser sempre...
quinta-feira, 25 de dezembro de 2014
TESE QUE DEFENDERIA
face a tanta maresia
A praia fatigaria
meu desejo de poesia.
O mar comprometeria
(embora estimule a liça)
mil ensejos de poesias.
A esmagadora maioria
das presenças naturais
- de homens a vela a peixes do cais
contra conspiraria:
- quando finco os pés na areia
a realidade impermeia
da natureza que brilha.
A praia fatigaria
meu desejo de poesia.
O mar comprometeria
(embora estimule a liça)
mil ensejos de poesias.
A esmagadora maioria
das presenças naturais
- de homens a vela a peixes do cais
contra conspiraria:
- quando finco os pés na areia
a realidade impermeia
da natureza que brilha.
quarta-feira, 24 de dezembro de 2014
QUADRA ANÊMICA DA AREIA
... de praia que subtraia
dos sentidos a palavra
ou de melhor descrevê-la
(seria convalescença?)
dos sentidos a palavra
ou de melhor descrevê-la
(seria convalescença?)
terça-feira, 23 de dezembro de 2014
QUADRA DA PRAIA
... a praia serpenteia
pela vontade alheia
que me invade - areia
aranha de sua teia...
pela vontade alheia
que me invade - areia
aranha de sua teia...
segunda-feira, 22 de dezembro de 2014
SEXTILHA ESTIVAL
Há uma brisa recifense
que parece que se sente
que aparece a toda gente
de um lugar independente
a vagar impunemente
do que se ache recifense.
que parece que se sente
que aparece a toda gente
de um lugar independente
a vagar impunemente
do que se ache recifense.
QUADRA ESTIVAL
Da quentura ensolarada
que acomete a madrugada
cedo sobra a passarada
a cagar toda a sacada!...
que acomete a madrugada
cedo sobra a passarada
a cagar toda a sacada!...
quinta-feira, 18 de dezembro de 2014
BACK TO MY AMERICAN WEST
while listening to Chris Rea's
A memória da grande pradaria
terminando nas Rochosas, seria
(porque de poética melancolia)
mais um sintoma de que poderia
ter sido outra a via - uma outra vista
então surpreendente quão indistinta
da vastidão transcendente e finita
do que ofereceria qualquer vida -
que todavia, paralela à minha
(como realidade imaginativa)
coexiste pacífica alternativa.
A memória da grande pradaria
terminando nas Rochosas, seria
(porque de poética melancolia)
mais um sintoma de que poderia
ter sido outra a via - uma outra vista
então surpreendente quão indistinta
da vastidão transcendente e finita
do que ofereceria qualquer vida -
que todavia, paralela à minha
(como realidade imaginativa)
coexiste pacífica alternativa.
quarta-feira, 17 de dezembro de 2014
EM BRASÍLIA
última notícia
Do Gênesis, Noé
(sendo o nêmesis que é)
já desembarcou com seu dilúvio
autorizado de cima (o clima)
sobre a profecia que duvido.
Mas, em se tratando de Dom Bosco
é capaz de vir jantar conosco
sem que acabe o mundo num eflúvio
Noé, do Gênesis
(entre parênteses).
terça-feira, 16 de dezembro de 2014
REVISITA 37: PRAÇA BATISTA CAMPOS
Belém do Pará
Sobram folhas caídas no banco da praça.
No cair das folhas
jaz o tempo inamovível
que passa-possante rápido-e-lépido
- o bólido do espaço indefinível
de velocidade inamovível.
Datas evocam imagens inalcançáveis
incansavelmente;
o passado é uma corda já roída
imprestável;
se quisermos sobrevergar o arco do destino
quais setas atingirão o alvo?
A saudade tapa a boca
de repente;
sons guardados na lembrança
animam o gramofone:
- a praça vazia testemunha
o que é de vida nenhuma.
O vento sibilante/balouçante/refrescante
ecoa inaudível
quando a paisagem foge à mente
(se morre o som
fantasmice)
A Batista Campos é o zoológico dos meus bichos interiores.
09/07/1984
Sobram folhas caídas no banco da praça.
No cair das folhas
jaz o tempo inamovível
que passa-possante rápido-e-lépido
- o bólido do espaço indefinível
de velocidade inamovível.
Datas evocam imagens inalcançáveis
incansavelmente;
o passado é uma corda já roída
imprestável;
se quisermos sobrevergar o arco do destino
quais setas atingirão o alvo?
A saudade tapa a boca
de repente;
sons guardados na lembrança
animam o gramofone:
- a praça vazia testemunha
o que é de vida nenhuma.
O vento sibilante/balouçante/refrescante
ecoa inaudível
quando a paisagem foge à mente
(se morre o som
fantasmice)
A Batista Campos é o zoológico dos meus bichos interiores.
09/07/1984
Um desassossego de Pessoa
"Tenho mais pena dos que sonham o provavel, o legitimo e o proximo, do que dos que devaneiam sobre o longinquo e o estranho. Os que sonham grandemente, ou são doidos e acreditam no que sonham e são felizes, ou são devaneadores simples, para quem o devaneio é uma música da alma, que os embala sem lhes dizer nada. Mas o que sonha o possivel tem a possibilidade real da verdadeira desillusão. Não me pode pesar muito o ter deixado de ser imperador romano, mas pode doer-me o nunca ter sequer fallado á costureira que, cerca das nove horas, volta sempre a esquina da direita. O sonho que nos promette o impossivel já nisso nos priva d'elle, mas o sonho que nos promette o possivel intromette-se com a propria vida e delega nella a sua solução. Um vive exclusivo e independente; o outro submisso das contingencias do que acontece."
Fernando Pessoa, "O livro do desassossego". In Obras de Fernando Pessoa, vol. X (prosa). Lisboa: Promoclube, p. 38.
Fernando Pessoa, "O livro do desassossego". In Obras de Fernando Pessoa, vol. X (prosa). Lisboa: Promoclube, p. 38.
MODESTA
Quero agora sair da gaiola
aprisionada desta poesia
toda oxidando em maresia
cerrada - sem vista para orlas
de tal modo/maneira que empola
enquadrada de forma irrestrita;
quero romper o canto das rimas
(de um gabola que se acha da hora)
ora a corromper sua assimetria;
quero partir agora do poeta
e travestir-me a vera do esteta
pateta que sou e soou poeta!...
....
(mas que autocrítica mais severa!)
[a quem convenci-me de véspera?...]
aprisionada desta poesia
toda oxidando em maresia
cerrada - sem vista para orlas
de tal modo/maneira que empola
enquadrada de forma irrestrita;
quero romper o canto das rimas
(de um gabola que se acha da hora)
ora a corromper sua assimetria;
quero partir agora do poeta
e travestir-me a vera do esteta
pateta que sou e soou poeta!...
....
(mas que autocrítica mais severa!)
[a quem convenci-me de véspera?...]
segunda-feira, 15 de dezembro de 2014
QUADRA DA CORRIDA ENCAMINHADA
Aos cinquenta e cinco anos de idade
correr cinquenta e cinco minutos
é como andar de uma a outra cidade
sobre um par de joelhos resolutos.
correr cinquenta e cinco minutos
é como andar de uma a outra cidade
sobre um par de joelhos resolutos.
sábado, 13 de dezembro de 2014
DE FÉRIAS SEM FÉRIAS III
pré-litorânea
Elusiva ou ilusiva
sensação animaria
outro ser subjetivo:
- mas bloqueia adjetiva
o que então alegraria
íntimo e substantivo
de certo ponto de vista.
Ilusivo ou elusivo
retro ou retrospectivo
(decerto pontos de vista)
este estar que objetivo
mudar introspectivo
abunda por tal motivo
aparências todavia.
quinta-feira, 11 de dezembro de 2014
DE FÉRIAS SEM FÉRIAS II
É tanto tempo livre
que livre o tempo oprime;
é tanto tempo livre
que livre o tempo exige
justo o que nunca tive
- tanto que quando o tenho
é como inexistisse
(como se me punisse)
que livre o tempo oprime;
é tanto tempo livre
que livre o tempo exige
justo o que nunca tive
- tanto que quando o tenho
é como inexistisse
(como se me punisse)
REVISITA 36: INTERROGAÇÃO
Os calos da imaginação
doem se calçados
com ideias pequenas.
Você lembra de um tempo
em que qualquer pensamento
era palavra
e esta a ação?
Não?
Deve ter sido antes de Cristo
antes da Criação
(inexistente, portanto
mas até quando?)
Deus nos deu o homem com preguiça
inacabado a quem coube a iniciativa
de completar-se
a ser feliz?
O que nos diz
a história da civilização
- dos percalços intransponíveis
aos quais pouco a adaptamos -
faz com que persista a questão:
- contemplar o completar-se, a ser feliz...
Os calos da imaginação
doem se calçados
com ideias pequenas.
03/05/1984
doem se calçados
com ideias pequenas.
Você lembra de um tempo
em que qualquer pensamento
era palavra
e esta a ação?
Não?
Deve ter sido antes de Cristo
antes da Criação
(inexistente, portanto
mas até quando?)
Deus nos deu o homem com preguiça
inacabado a quem coube a iniciativa
de completar-se
a ser feliz?
O que nos diz
a história da civilização
- dos percalços intransponíveis
aos quais pouco a adaptamos -
faz com que persista a questão:
- contemplar o completar-se, a ser feliz...
Os calos da imaginação
doem se calçados
com ideias pequenas.
03/05/1984
quarta-feira, 10 de dezembro de 2014
REVISITA 35: CLARIDADE
Pela claraboia passa a nova luz solar
luz solar nova porque manhã;
A manhã fresca, recente, luminosa
passa clara pela claraboia
Meus olhos namoram os flocos da luz solar
rastro de poeira da mobília sacudida;
Meu corpo transpassa o caminho para cima
solto fantasma na casa branquipálida
Passa a vida pela claraboia
vira o sótão um belo altar;
Oro sem querer, a vista para cima
à procura de um anjo no caminho luminoso
Na manhã clara boia branca a luz
de uma nova fresca a transpassar a idade;
Traz recente à mente a pálida fantasia
de um anjo nascente da poeira sacudida...
14/10/1983
luz solar nova porque manhã;
A manhã fresca, recente, luminosa
passa clara pela claraboia
Meus olhos namoram os flocos da luz solar
rastro de poeira da mobília sacudida;
Meu corpo transpassa o caminho para cima
solto fantasma na casa branquipálida
Passa a vida pela claraboia
vira o sótão um belo altar;
Oro sem querer, a vista para cima
à procura de um anjo no caminho luminoso
Na manhã clara boia branca a luz
de uma nova fresca a transpassar a idade;
Traz recente à mente a pálida fantasia
de um anjo nascente da poeira sacudida...
14/10/1983
BUTTON REVERSED
the trivial case of this Benjamin
(a Scott Fitzgerald)
A morrinha
se tem lugar
que aporrinha
de impacientar
seria no ar
que se aspira
e se expira
mais devagar
ao se espremer
(até me doer)
esta espinha
a adolescer
à tardinha
de envelhecer...
terça-feira, 9 de dezembro de 2014
REVISITA 34: ALEGORIA DE UM SENTIMENTO
Meu amor
que as pedras te abandonem!...
As pedras que te tocaram
(tão frias e duras suas ásperas curvas)
terminaram te partindo em expansivos
fragmentos no tempo reincidindo
a dilatar o espaço
sideralizados.
E eu de tão triste
de precoce velhice
ansioso te acompanho acompanhável
interessado na trajetória dos teus pedaços no infinito.
Meu amor
por que cristal multifacetado
quebraste em milhares
de caquinhos irreconciliáveis?
Por acaso não teria eu forjado
para ti indivisível um aço inoxidável?
(bem sei do meu fracasso)
A chuva de estrelas cadentes
tangente ao firmamento
gera o sentimento inexplicável:
- por ti esfarelada
de mim angustiado...
Meu amor
(meu em vão sublime horror)
não escorra entre meus dedos
no vazio dos meneios;
cubra-me do teu pó divino;
deixe-me assim teu íntimo
(embora eu não possa mais ser teu amigo)
sol radiante entre belas negras nuvens!...
Depois cinza não ficaremos
faremos festa quando chover
- entrelaçados de longe
incontrastáveis atrás do horizonte...
25/07/1983
que as pedras te abandonem!...
As pedras que te tocaram
(tão frias e duras suas ásperas curvas)
terminaram te partindo em expansivos
fragmentos no tempo reincidindo
a dilatar o espaço
sideralizados.
E eu de tão triste
de precoce velhice
ansioso te acompanho acompanhável
interessado na trajetória dos teus pedaços no infinito.
Meu amor
por que cristal multifacetado
quebraste em milhares
de caquinhos irreconciliáveis?
Por acaso não teria eu forjado
para ti indivisível um aço inoxidável?
(bem sei do meu fracasso)
A chuva de estrelas cadentes
tangente ao firmamento
gera o sentimento inexplicável:
- por ti esfarelada
de mim angustiado...
Meu amor
(meu em vão sublime horror)
não escorra entre meus dedos
no vazio dos meneios;
cubra-me do teu pó divino;
deixe-me assim teu íntimo
(embora eu não possa mais ser teu amigo)
sol radiante entre belas negras nuvens!...
Depois cinza não ficaremos
faremos festa quando chover
- entrelaçados de longe
incontrastáveis atrás do horizonte...
25/07/1983
DE FÉRIAS SEM FÉRIAS
O muro sem trégua maciço das férias
- onde o corpo em repouso segrega a mente
até que esta o desregre impiedosamente -
elevou-se montanhoso à minha frente
sem régua a mil léguas de fato das férias...
... ... ...
... e por mais que eu alpinista decadente
despreocupe de escalá-lo noutra frente
(por saber que já não posso quem o enfrente)
do corpo e da mente preciso de férias...
- onde o corpo em repouso segrega a mente
até que esta o desregre impiedosamente -
elevou-se montanhoso à minha frente
sem régua a mil léguas de fato das férias...
... ... ...
... e por mais que eu alpinista decadente
despreocupe de escalá-lo noutra frente
(por saber que já não posso quem o enfrente)
do corpo e da mente preciso de férias...
segunda-feira, 8 de dezembro de 2014
REVISITA 33: DEDICATÓRIA
Quando em ti minhas mãos passeiam
alegres, soltas, agradáveis, febris
E tua pele arrepia; e a carne lateja
tesa e macia
Sorvemos cravados olhares do outro, dardos cadentes
dados do jogo incandescente
E nos tornamos cúmplices, verídicos
legitimamente cativos
da mesma emoção.
Paixão! A loucura senil dos velhos está na tua ausência!...
10/05/1983
domingo, 7 de dezembro de 2014
(RE)VIRANDO A (TREVA) CURVA
pistas
... da criatura apolítica
insatisfeita e acrítica
quando então conjectura
sua loucura política
travestida travessura:
- ver se estão ali na esquina
(se pregando uma doutrina)
[se golpistas na surdina]
{se um futuro que combina}
... da criatura apolítica
insatisfeita e acrítica
quando então conjectura
sua loucura política
travestida travessura:
- ver se estão ali na esquina
(se pregando uma doutrina)
[se golpistas na surdina]
{se um futuro que combina}
sábado, 6 de dezembro de 2014
NUBLADA IV
[agora chove
nos contrafortes
de alguma sorte
com epicentro
bem mais ao norte
(verão dezembro
então tropical
se parecendo
com outro Natal)]
nos contrafortes
de alguma sorte
com epicentro
bem mais ao norte
(verão dezembro
então tropical
se parecendo
com outro Natal)]
NUBLADA II
... este sfumato
chiaro cinzeiro
já ensolarando
tão brasileiro:
- por que Leonardo
não interveio
junto a São Pedro
(de Roma mesmo)
chover do afresco?...
NUBLADA
A cobertura
de baixa altura
tem curvatura
de ferradura
meio enterrada
de cavalgada
interrompida
da madrugada
amanhecida.
de baixa altura
tem curvatura
de ferradura
meio enterrada
de cavalgada
interrompida
da madrugada
amanhecida.
sexta-feira, 5 de dezembro de 2014
(DES)SAZONAL
É todo interno
(nem sempre inverso)
o movimento
(decerto inverno)
que mal intento
agora mesmo.
Este dezembro
de veraneios
ainda não disse
ao que interveio
- por pouco triste
por pouco velho
tampouco quero
que seja menos.
Ainda que visse
no que me adentro
ainda que viesse
de outro novembro
talvez coubesse
dizer que acedo
se movimento
de outros momentos
[se primavera
de outonais eras
reconsidero]
(nem sempre inverso)
o movimento
(decerto inverno)
que mal intento
agora mesmo.
Este dezembro
de veraneios
ainda não disse
ao que interveio
- por pouco triste
por pouco velho
tampouco quero
que seja menos.
Ainda que visse
no que me adentro
ainda que viesse
de outro novembro
talvez coubesse
dizer que acedo
se movimento
de outros momentos
[se primavera
de outonais eras
reconsidero]
MANÍACO-DEPRESSIVA
Seu olhar e seu sorrir
e o que mais de você vir
(da superfície opulenta
de entranhas aos quarenta)
[eu, se olhar você sorrir
o que mais seu existir
para outro antes de vir...]
quando meus em harmonia
(da vontade que só minha)
[pois tão meus e minha, ó linda!]
são inteiros de utopia
(aos pedaços todo dia)
e o que mais de você vir
(da superfície opulenta
de entranhas aos quarenta)
[eu, se olhar você sorrir
o que mais seu existir
para outro antes de vir...]
quando meus em harmonia
(da vontade que só minha)
[pois tão meus e minha, ó linda!]
são inteiros de utopia
(aos pedaços todo dia)
quinta-feira, 4 de dezembro de 2014
REVISITA 32: VERBO II
Se tiveres em essência
Aquiescência
Tolerarás o absurdo
o obtuso
Dignamente farto...
11/03/1983
Aquiescência
Tolerarás o absurdo
o obtuso
Dignamente farto...
11/03/1983
REVISITA 31: VERBO
o primeiro
O vento não afaga sua pele como penso
nem perpassa seus cabelos como meus dedos.
Não há chance para nós.
Não há duas palavras para a mesma impressão.
Mas se insisto
em abraçar limitado o infinito
sou um ponto no deserto
que você vê.
19/01/1983
O vento não afaga sua pele como penso
nem perpassa seus cabelos como meus dedos.
Não há chance para nós.
Não há duas palavras para a mesma impressão.
Mas se insisto
em abraçar limitado o infinito
sou um ponto no deserto
que você vê.
19/01/1983
quarta-feira, 3 de dezembro de 2014
REVISITA 30: E. T.
Para além do úmido olhar
no alto negro azul, pó de estrelas
manto dos magos
gráfico do infinito
vive o amigo
perto e viajante
o menino
terno visitante
pomba da paz intergaláctica...
O êxtase extraterrestre.
03/01/1983
DUPLA QUADRA UNIPOLAR
de que me adianta tentar?
Amanheço da alegria
que alvorece dolorida
neste ensolarado dia
de estação interrompida
já que plúmbea deveria
pela quadra duplicida
mal escrita, bem chovida:
- pluviosa sensaboria...
Amanheço da alegria
que alvorece dolorida
neste ensolarado dia
de estação interrompida
já que plúmbea deveria
pela quadra duplicida
mal escrita, bem chovida:
- pluviosa sensaboria...
terça-feira, 2 de dezembro de 2014
BENEFIT
Jethro Tull
... a paisagem de fora
e a de dentro, por ora
coincidem - o que acalma
minh'alma em sua vertigem
em sua sonora origem:
- a de imagem agora
daquela outrora virgem...
... a paisagem de fora
e a de dentro, por ora
coincidem - o que acalma
minh'alma em sua vertigem
em sua sonora origem:
- a de imagem agora
daquela outrora virgem...
MEU RECIFE
do alterego inclusive
Arrecifes
em que estive
- desististe
ô Euclides?
O Recife
em que estive
(indo a pique)
insististe
- porque nosso amor inclusive!...
Arrecifes
em que estive
- desististe
ô Euclides?
O Recife
em que estive
(indo a pique)
insististe
- porque nosso amor inclusive!...
ESQUECÍVEL
Em dezembro
eu me lembro
de dezembros
contratempos
de outro tempo:
- quando o vento
(que soprava
contraventos)
alentava
turbulento
desalentos
que eu levava
desatento
todo o tempo...
eu me lembro
de dezembros
contratempos
de outro tempo:
- quando o vento
(que soprava
contraventos)
alentava
turbulento
desalentos
que eu levava
desatento
todo o tempo...
segunda-feira, 1 de dezembro de 2014
DA CONSCIÊNCIA SEM
Jogar melhor o jogo das aparências
a fim de melhor refletir uma essência;
jogar melhor o jogo das aparências
a fim de melhor cultivar parecenças;
circular melhor pelas adjacências
na perspectiva afim de compreendê-las
(talvez melhor proteger as diferenças
e enfim administrá-las com prudência)
[ou] [ou] [ou]
... ou renunciar ao jogo das aparências
a fim de reconhecer sua impertinência
face à termodinâmica decadência;
ou mesmo argumentar pela inexistência
do jogo, das aparências, de uma essência
(talvez aquietar-se pela inexistência
de consequência alguma nessa existência)
a fim de melhor refletir uma essência;
jogar melhor o jogo das aparências
a fim de melhor cultivar parecenças;
circular melhor pelas adjacências
na perspectiva afim de compreendê-las
(talvez melhor proteger as diferenças
e enfim administrá-las com prudência)
[ou] [ou] [ou]
... ou renunciar ao jogo das aparências
a fim de reconhecer sua impertinência
face à termodinâmica decadência;
ou mesmo argumentar pela inexistência
do jogo, das aparências, de uma essência
(talvez aquietar-se pela inexistência
de consequência alguma nessa existência)
domingo, 30 de novembro de 2014
sábado, 29 de novembro de 2014
REVISITA 29: TRÓPICO
original atualíssimo
Não há vontade, nem que má
nem ambição.
Nenhuma gota de voluntariedade.
Apenas um véu branco cobrindo o olhar
e maleita dormência.
10/12/1982
Não há vontade, nem que má
nem ambição.
Nenhuma gota de voluntariedade.
Apenas um véu branco cobrindo o olhar
e maleita dormência.
10/12/1982
sexta-feira, 28 de novembro de 2014
ALA DA SALA
dos professores
contemporâneos
enquanto atores
extemporâneos
sob fatores
controladores:
- educadores
edulcorando
um show de horrores
(dos educandos?...)
Sala das cores
ala das dores:
- dos estertores
de antes amores
diante dos mores
de outros valores...
[sala das cores que desbotamos
lavando o lodo através dos anos;
ala das dores que cultivamos
lavrando a todos do viés dos anos]
REVISITA 28: BEIJO MORENO
Ando mudo, sem procura
Bicho exposto à visitação pública;
Corroído pela mesmice perplexa
Cansado.
Mas te vejo, calmo o teu semblante
Tratando-me com tolerância carinhosa;
Mãe serena, cheia de filhos e filhas
De paciência, ante a imatura inquietude!...
Ando o mundo, sem procura
Bicho exposto aos de vista curta;
Coalhado de coisas, figuras mórbidas
Triste e opaco.
Mas quando pousa o teu olhar, ao vagar
Pássaro negro em rochedo oceânico
Diminui a solidão, um ponto no horizonte
Desmancha a espuma na infinitude das águas...
...
"À procura de mim, procuro-te
Nos teus lábios, de estranha doçura
Inquisidores da dúvida;
Nas palavras assim proferidas
Ecos de ti, íntimas;
No teu beijo moreno, meigo
Meu andarilho anseio...
Procuro-te, à procura de mim."
18/11/1982
18/11/1982
quinta-feira, 27 de novembro de 2014
DURANTE
Antes do temporal
esta paz surreal
empurra meus olhos juntos fugidios
escapulindo passarinhos furtivos.
O resto de mim não consegue.
Do lado de cá da janela
assiste comigo ao que segue
como se de si fosse a cela
ou sob tutela estivesse
(e toda cautela impusesse).
[diante do temporal
há passarinhos - presos ou fugitivos]
...
Depois do temporal
revolto a ver normal
esta paz sem igual.
esta paz surreal
empurra meus olhos juntos fugidios
escapulindo passarinhos furtivos.
O resto de mim não consegue.
Do lado de cá da janela
assiste comigo ao que segue
como se de si fosse a cela
ou sob tutela estivesse
(e toda cautela impusesse).
[diante do temporal
há passarinhos - presos ou fugitivos]
...
Depois do temporal
revolto a ver normal
esta paz sem igual.
quarta-feira, 26 de novembro de 2014
ELEGÍADA
de um maníaco
Este ar etéreo
te deixa aérea
na estratosfera
da indiferença!...
Então funéreo
eu me despeço
até que desças
ao andar térreo
da vida dessas
sem refrigério
e me umedeças
do que antes peço
de tua presença
em tua ausência!...
Este ar etéreo
te deixa aérea
na estratosfera
da indiferença!...
Então funéreo
eu me despeço
até que desças
ao andar térreo
da vida dessas
sem refrigério
e me umedeças
do que antes peço
de tua presença
em tua ausência!...
terça-feira, 25 de novembro de 2014
ESTE DESCOMPROMISSO
pretérito perigo
O abismo - me sorrindo
(do seu esconderijo)
o seu sorriso lindo
a esta altura - finjo
que não sou nada rijo
[no meu duplo sentido]
àquela altura (minto
senão que regozijo)
a fim de escapar disso
(de vez escarpar ido
este descompromisso)
segunda-feira, 24 de novembro de 2014
REVISITA 27: A ESPERA
Bate a chuva
lenta, nula
atrás da porta:
agora, o lado claro de ser
pouco importa.
Pinga a mente
ressentidamente;
os pensamentos, vagam
semidirecionados
retros, menores
retroses de lã.
Dançam os dedos
multimeios
parecendo milhares:
"sê a seda, agulha relax
mostra-me a teia
tecida rarefeita
assim que se faz".
(antevista a carícia
a lembrança vicia;
quanto aos corpos, unidos
contorcidos de gemidos
resta a memória
da fé, sua pausa
o fim da retidão)
...
Se tola vem a mosca
à toa
pouco importa:
agora, clareia o ser
atrás da porta.
01/11/1982
sábado, 22 de novembro de 2014
MEFISTOFÉLICA
Vocábulos
de estábulos
literários
me encabulam:
- gritam pra sair
poder existir
se fazer ouvir
querem ter porvir
(querem ter PORVIR!!!)
[como se o futuro do presente
o garantisse postumamente]
...
{meu demônio e eu concordamos:
- melhor desapalavrar
de qualquer um avatar}
de estábulos
literários
me encabulam:
- gritam pra sair
poder existir
se fazer ouvir
querem ter porvir
(querem ter PORVIR!!!)
[como se o futuro do presente
o garantisse postumamente]
...
{meu demônio e eu concordamos:
- melhor desapalavrar
de qualquer um avatar}
sexta-feira, 21 de novembro de 2014
YES, RELAYER
lembrança progressiva
... meus portões do delírio
da adolescência - lírios
do campo da inocência -
abriram minha ciência
cedo e tarde (destarte
sua impermanência em arte
há muito e há pouco) - rios
de sons que ainda ouço
vindos daquele poço
de antigo colorido
que ainda desvario
- refletido em colírio
sonoro desde moço
para os olhos que olvido...
... meus portões do delírio
da adolescência - lírios
do campo da inocência -
abriram minha ciência
cedo e tarde (destarte
sua impermanência em arte
há muito e há pouco) - rios
de sons que ainda ouço
vindos daquele poço
de antigo colorido
que ainda desvario
- refletido em colírio
sonoro desde moço
para os olhos que olvido...
quinta-feira, 20 de novembro de 2014
QUADRA DO DIA
A tristeza da melancolia
é mais triste porque indefinida:
- tristeza de si desconhecida
e mais triste porque não sabia...
REVISITA 26: JARDIM
A flor desnuda estanca o fluxo
do amor da abelha
centelha.
No pouso breve da folha de luxo
borboleta
tem telha.
Pássaro aventa, voa e derruba
da lua
quem telha.
27/10/1982
do amor da abelha
centelha.
No pouso breve da folha de luxo
borboleta
tem telha.
Pássaro aventa, voa e derruba
da lua
quem telha.
27/10/1982
quarta-feira, 19 de novembro de 2014
DESTA PRA PRÓXIMA
intergeracional
... para onde eles irão
(e outros que seguirão)
sem boa educação
- a do sim e do não
em livre oposição?
Para onde todos vão
se há deseducação
(a do 'sim, por que não?')
a induzir instruções
certas das conclusões
- dos meios ou senão
dos fins com deduções?...
segunda-feira, 17 de novembro de 2014
EM RESUMO
será o eremita?
Dos meus jogos em tempos de abraços:
- eu gosto mais do primeiro tempo
(no segundo, me vem um cansaço);
- o intervalo, se faz necessário
(meus quinze minutos de vestiário);
- gosto menos do terceiro tempo
do quarto nos quintos, contratempos
(prorrogações do gasto de erários)
[quando os escrúpulos vão pro espaço]
sexta-feira, 14 de novembro de 2014
PERIFERIA
refém do clima?
A capa cinza
de cor escura
sobre a cidade
que não Brasília
porque avizinha
a dor sozinha
da tempestade
então mais dura
retém ainda
água à vontade...
TEMPO E RENOVAMENTO
memória e esquecimento
Já tive seis
depois doze
dezoito, vinte e um
trinta e cinco
quarenta e dois;
passei cinquenta
e nada lenta
a vida em cada uma das idades
- nas cinquenta e cinco oportunidades
aniversariadas até o presente -
é sempre a da presente novidade:
- uma de cada vez, cada vez uma.
[um ano de cada vez, cada vez um
que antes de experimentado era nenhum]
quinta-feira, 13 de novembro de 2014
MANOEL SE FOI
notícia repetida (de entristecida)
embora inexatamente verdadeira e
agora devidamente contextualizada e
acompanhada de uma inevitabilidade
... já cumpria travessia de
fauna para flora havia bom
tempo (bem lento na fusão
lavrada e apalavrada com
coisas de sua atenção).
Outro tempo bom e Barros
mineralizar-se-á - porque
sua obra (próxima da lenta
decomposição estelar), a
caminho de o ser, o é já.
quarta-feira, 12 de novembro de 2014
REVISITA 25: SOPRO
Passa o tempo
pássaro no vento;
e
marcando o passo
passo:
- inerte como rocha
oco feito concha
monte de lava
faz-de-conta.
29/09/1982
REVISITA 24: BREVIDADE
Por um instante
o fluxo da vida detém-se na análise passiva
conviva da preguiça
e o meu corpo fecha-se por completo
ansioso de algum sentimento
majestade sem coroa
e a tua vontade dorme solta
o sono arquetípico da lassidão.
...
(não saberemos a razão das coisas)
27/09/1982
o fluxo da vida detém-se na análise passiva
conviva da preguiça
e o meu corpo fecha-se por completo
ansioso de algum sentimento
majestade sem coroa
e a tua vontade dorme solta
o sono arquetípico da lassidão.
...
(não saberemos a razão das coisas)
27/09/1982
ÂNGELA
Desde que me entendo por gente
teu rosto está em minha mente;
desde que me entendo com gente
teu rosto aqui está suavemente
rosto sorrindo desde sempre;
se me desentendo com gente
teu rosto então condescendente
ri novamente - mas somente
se eu não desentender da mente...
teu rosto está em minha mente;
desde que me entendo com gente
teu rosto aqui está suavemente
rosto sorrindo desde sempre;
se me desentendo com gente
teu rosto então condescendente
ri novamente - mas somente
se eu não desentender da mente...
terça-feira, 11 de novembro de 2014
ANTES DE AS ESQUECER
É sempre assim antes de escrever:
- acho que as palavras vão morrer
antes de se permitirem ver
antes de me deixarem rever
o que poderiam vir a ser
se de fato as soubesse escrever.
SINONÍMIA ALAGADIÇA
Aquela flor no pântano
será uma flor de pântano
do charco o delgado encanto?
Aquela flor no lodaçal
será uma cor do tremedal
do aguaçal banhado de sol?
Em atascal que atola o sal
aquela flor tão brejeira
contrária a tal natureza
(de odor cediço à lameira)
seria a dor da beleza?...
será uma flor de pântano
do charco o delgado encanto?
Aquela flor no lodaçal
será uma cor do tremedal
do aguaçal banhado de sol?
Em atascal que atola o sal
aquela flor tão brejeira
contrária a tal natureza
(de odor cediço à lameira)
seria a dor da beleza?...
segunda-feira, 10 de novembro de 2014
SEM BOLA DE CRISTAL
Quando o tempo incita
que o momento excite
quando a hora avisa
que o agora vive
quanta água parada
deságua em deslize
poça apodrecida
de repente livre?
Quanta água pesada
desgasta a calçada?
Poça rediviva
movimenta a vida?
E quanto a espaçá-la
- calçando a calçada
enquanto espaçá-lo
- o momento dado
é de quem a alçada?
...
[sem bola de cristal
de gude, sem canal
(à frente o matagal)
me escuso after all]
que o momento excite
quando a hora avisa
que o agora vive
quanta água parada
deságua em deslize
poça apodrecida
de repente livre?
Quanta água pesada
desgasta a calçada?
Poça rediviva
movimenta a vida?
E quanto a espaçá-la
- calçando a calçada
enquanto espaçá-lo
- o momento dado
é de quem a alçada?
...
[sem bola de cristal
de gude, sem canal
(à frente o matagal)
me escuso after all]
quarta-feira, 5 de novembro de 2014
QUADRA PÓS-ELEITORAL
heterodoxa
A rachadura
é na fervura
(é da fervura)
[dá em fervura]
{só é fervura}:
- tão mais sólida
quão insólita!...
A rachadura
é na fervura
(é da fervura)
[dá em fervura]
{só é fervura}:
- tão mais sólida
quão insólita!...
terça-feira, 4 de novembro de 2014
DO LÉXICO GOLPISTA
de sua assustadora imprecisão assustadiça
Se aqui e agora
Brasil for Brazil
(Brazil for Brasil)
será que importa?
Será que exporta
se dois ou dez mil
se mais de cem mil
fizerem hora?
Se estão por fora
sem tais vezes mil
será que aporta?
Será que emborca?...
(se então aborta
calma ou Mallorca?)
[se aqui ou embora
por que varonil?]
...
Se houver pólvora
sob um véu anil
em qualquer Brasil
a flor no fuzil
será que aurora?...
Se aqui e agora
Brasil for Brazil
(Brazil for Brasil)
será que importa?
Será que exporta
se dois ou dez mil
se mais de cem mil
fizerem hora?
Se estão por fora
sem tais vezes mil
será que aporta?
Será que emborca?...
(se então aborta
calma ou Mallorca?)
[se aqui ou embora
por que varonil?]
...
Se houver pólvora
sob um véu anil
em qualquer Brasil
a flor no fuzil
será que aurora?...
segunda-feira, 3 de novembro de 2014
CUSTOMIZADO
Amo o que escuto
escuto o que amo.
Amo o que leio
se leio o que amo.
Vejo que escuto
vejo que leio
vejo que os amo.
Mas sei o quanto
se além há muito
e aquém de tudo
o sinto mudo?
...
(vejo mais quando?...)
escuto o que amo.
Amo o que leio
se leio o que amo.
Vejo que escuto
vejo que leio
vejo que os amo.
Mas sei o quanto
se além há muito
e aquém de tudo
o sinto mudo?
...
(vejo mais quando?...)
sexta-feira, 31 de outubro de 2014
REVISITA 23: CONTAS DE BRILHO
Mostra-me como o silêncio
Com que envolves o melhor momento
Alimenta teu sonho
E de mim terás a promessa
De não violar tua cidadela
Castelo dos teus segredos
Peço-te ainda, e não mais que uma vez
Para ensinar-me o mergulho
Tenso, agudo, profundo
No negro lúcido dos teus olhos
Par de contas translúcidas
E de mim terás quase tudo
Quase a metade do mundo
A metade que te falta
Para saíres das sombras...
15/09/1982
CULTURAL
Agora a gravidade jaz seu serviço com incompetência...
Horizontalizou-me a paixão - mas sem crise de abstinência...
Agora a gravidade da condição me estrala sem demência...
(verticalizou-se em sazonalidade com demais consciência)
...
[o gravitacional
naturaliza mal]
Horizontalizou-me a paixão - mas sem crise de abstinência...
Agora a gravidade da condição me estrala sem demência...
(verticalizou-se em sazonalidade com demais consciência)
...
[o gravitacional
naturaliza mal]
quinta-feira, 30 de outubro de 2014
REVISITA 22: A PENUMBRA
Viste dois flocos de neve, pequeninos
tirados da escuridão
- teus olhos, brancos de susto
arregalados diante de mim!
Faz-se de espelho, o meu ser
dos teus medos o reflexo de anseios
- do silêncio, onde não caminhas
por ser negro invisível
Vivos na penumbra, fogem as mãos
os pés, o corpo, vestidos
de tecido mais fino, sem estrelas
sem mais máculas...
De forma que, minha querida
foram só dois pontos claros, pequeninos
fazendo par, como nós
diante do desconhecido.
25/08/1982
25/08/1982
REVISITA 21: FANTASIA MATUTINA
No limiar das trevas para a claridade
pululam dedos do incriado.
Vão luzes cortando o ar já refeito
das mazelas dos respirandos do dia anterior.
Da densa noite ficou um rastro
iluminado por desejos de um sonho.
Verde floresta de criaturas e cogumelos
perdeu-se incompletamente.
Sobe o sol por cima do real
movimentando o calor da angústia rotineira.
Rostos de reconhecida ambiguidade
são pedras jogadas no caminho.
Anda a roda gigante - logo densa outra noite
recobrirá o que descansa a vida.
Livre no sono a procura
sonhará perdida a floresta encantada.
27/07/1982
AO SENHOR DA CHUVA
O clima lava o mundo.
O tempo lava a fundo.
O clima muda a fundo
O tempo muda o mundo.
(é cíclico e profundo
de fato o raso mundo
encíclico e jucundo)
quarta-feira, 29 de outubro de 2014
ON THE EDGE II
... vida se apresenta
morte nos aguarda:
- entre tais certezas
por que a caminhada
pelas incertezas
mal nos representa?
(nossas inteirezas)
[vossa via larga]
{toda a repetência}
morte nos aguarda:
- entre tais certezas
por que a caminhada
pelas incertezas
mal nos representa?
(nossas inteirezas)
[vossa via larga]
{toda a repetência}
ON THE EDGE
... pois aqui já estamos
sem que percebamos:
- desde sempre andando
(desde que lutando)
ainda respirando;
pobre ou prosperando
rico ou conservando
nos precarizando
vivos entretanto...
sem que percebamos:
- desde sempre andando
(desde que lutando)
ainda respirando;
pobre ou prosperando
rico ou conservando
nos precarizando
vivos entretanto...
domingo, 26 de outubro de 2014
QUADRA ELEITORAL
conjugações
Se candidato convincente
ou cotado com demérito
será futuro do presente
ou futuro do pretérito.
Se candidato convincente
ou cotado com demérito
será futuro do presente
ou futuro do pretérito.
sábado, 25 de outubro de 2014
QUADRA QUÁDRUPLA DECADENTE
síntese & explicação
Trabalho
baralho
trabalho
baralho
baralho
baralho
paspalho
(caralho!...)
[eu trabalho
e embaralho
eu trabalho
e embaralho
se embaralho
mais baralho
(e o trabalho)
eu paspalho
pra caralho!...]
Trabalho
baralho
trabalho
baralho
baralho
baralho
paspalho
(caralho!...)
[eu trabalho
e embaralho
eu trabalho
e embaralho
se embaralho
mais baralho
(e o trabalho)
eu paspalho
pra caralho!...]
terça-feira, 21 de outubro de 2014
REGISTRO MECÂNICO
grilos?
Meu carro engoliu uns passarinhos
que agora comigo seguem rindo...
Meu carro engoliu dois passarinhos
quatro, seis, dez - ao invés de cinco
sete, treze, dezessete primos:
- pois pares formando casaizinhos
mostram porque estão reproduzindo...
Meu carro engoliu uns passarinhos
que agora comigo seguem rindo...
Meu carro engoliu dois passarinhos
quatro, seis, dez - ao invés de cinco
sete, treze, dezessete primos:
- pois pares formando casaizinhos
mostram porque estão reproduzindo...
domingo, 19 de outubro de 2014
QUADRA SOBRE DUAS PERNAS
homo ludens
Enquanto eu for isto
- o bípede arisco
meu prazer arrisco
sob o sol a pino!...
Enquanto eu for isto
- o bípede arisco
meu prazer arrisco
sob o sol a pino!...
sexta-feira, 17 de outubro de 2014
GÊNESE
a Sebastião Salgado
Curvo-me à majestade do bardo!...
Seu olho magnificado
por tudo fotografado
profunda o veio largo
extremo e próximo
(do meio tácito)
humanizado
agridoce
salgado.
Curvo-me à majestade do bardo!...
Seu olho magnificado
por tudo fotografado
profunda o veio largo
extremo e próximo
(do meio tácito)
humanizado
agridoce
salgado.
AO SENHOR DO TEMPO IV
perfurando outubro
Ao senhor do tempo
(que não me ouve mesmo)
pelo contratempo
(de não me ouvir mesmo):
- haverá pois tempo
de oxalá esquecê-lo!...
Ao senhor do tempo
(que não me ouve mesmo)
pelo contratempo
(de não me ouvir mesmo):
- haverá pois tempo
de oxalá esquecê-lo!...
segunda-feira, 13 de outubro de 2014
DEMOCRÁTICA
uma diretriz
Da mídia a fera
a ser batida
é a atmosfera
da própria mídia
que vos sitia
em blogosfera.
O que se espera
que não se espera
(pois desespera)
- que poderia
- que deveria
pois mobiliza?
Da blogosfera
mais combativa
virá a esfera
que a publiciza:
a vida ativa
- mas coletiva.
domingo, 12 de outubro de 2014
REVISITA 20: O QUADRO
A parede do meu quarto pendurava uma curva
De uma estrada de pinheiros e árvores retorcidas
Encravando a sua forma em pedra fantasmagórica
Desde a tenra infância dos mistérios o fascinante
Quando eu nesse quadro mergulhava absorvido
Meus me tropeçavam os cascalhos do caminho
Eu jogava os olhos para trás do muro verde
Certo de encontrar muito melhor qualquer resposta
Ao chegar dobrando a vista da beleza de saber
Se a vida do outro lado da pedreira poderia
Restava acreditar já quando tudo escurecia
Dos receios desse tempo um então maior segredo
Agora há separados nós do quadro e do quarto
Longes do amado mundo e abandonando a alegria
Imaginando ainda que quanto mais escuro
Decerto encontrarão mais segredos qual respostas...
07/06/1982
sexta-feira, 10 de outubro de 2014
DOM CASMURRO
udenista
No clima eleitoral
separo o bem do mal.
Se clima eleitoral
reparo o mal que tem:
- o aparo tal que o bem
(o bem daqueles sem)
ampara o zen no sal.
Desse modo o clima
prepara o tal que vem
da perspectiva
nada desmedida
de uma só medida:
- a minha!
- A minha!!
- A MINHA!!!...
No clima eleitoral
separo o bem do mal.
Se clima eleitoral
reparo o mal que tem:
- o aparo tal que o bem
(o bem daqueles sem)
ampara o zen no sal.
Desse modo o clima
prepara o tal que vem
da perspectiva
nada desmedida
de uma só medida:
- a minha!
- A minha!!
- A MINHA!!!...
terça-feira, 7 de outubro de 2014
À NOITE, TROVA
Dia de prova
vem e renova
que com a prova
que sem a prova
o que comprova
do que renova?
Que nem aprova?
Que nada prova?
Que desaprova
o que reprova?
Que basta a nota?
(que bosta a nota...)
[à noite, trova!...]
vem e renova
que com a prova
que sem a prova
o que comprova
do que renova?
Que nem aprova?
Que nada prova?
Que desaprova
o que reprova?
Que basta a nota?
(que bosta a nota...)
[à noite, trova!...]
RECADO ELEITORAL
aos meninos que não viram
Findou o primeiro turno
de volta para o futuro:
- por isso, porém, contudo
verifique, antes de tudo
(entre cético e incrédulo)
o vigésimo século
dos pretéritos aécios:
-- quando a tal desigualdade
era desigualdade tal
que qualquer barbaridade
mostrava uma qualidade
naturalmente natural.
[a normalidade do mal
(sua banalidade real)]
Findou o primeiro turno
de volta para o futuro:
- por isso, porém, contudo
verifique, antes de tudo
(entre cético e incrédulo)
o vigésimo século
dos pretéritos aécios:
-- quando a tal desigualdade
era desigualdade tal
que qualquer barbaridade
mostrava uma qualidade
naturalmente natural.
[a normalidade do mal
(sua banalidade real)]
sexta-feira, 3 de outubro de 2014
SUPERQUADRA DA SAFADA FALTA DE LUZ
singela homenagem à CEB e carapuça àqueles que corrompem a política
À família
que famiglia
fez quadrilha
de Brasília.
quarta-feira, 1 de outubro de 2014
AO SENHOR DO TEMPO III
short report
Ainda tímida
timidazinha
(anágua antiga
de mariazinhas)
uma água arisca
numa descida
arrefecida
protochovia
tarde e vazia.
[chuvisca ainda]
Ainda tímida
timidazinha
(anágua antiga
de mariazinhas)
uma água arisca
numa descida
arrefecida
protochovia
tarde e vazia.
[chuvisca ainda]
terça-feira, 30 de setembro de 2014
REVISITA 19: BELÉM, PRIMEIRAS IMPRESSÕES
três fragmentos
O calor já não é tanto; a umidade absorve gradativamente minha indisposição. Estou me adaptando.
***
Belém é melancólica. Parece mulher triste e maltratada. Ouço que desleixada e suja por disputa de filhos ilustres - mulher de malandros coronéis, caprichosos e abusivos. Porém, a cidade mantém certa beleza - a beleza do casario antigo, da copa unificada das mangueiras solidárias... Belém é ultimamente bela - embora comprometida pela velhacaria autoritária, que promove a novidade malfeita e com esta bem coexiste.
***
A tarde é chuvosa sempre. Nuvens negras cobrem o céu e o chão; a vida cobre-se de cinza diariamente. Belém escura é lúgubre, um filme antigo; os antigos casarões de sombras úmidas reavivam seu encanto de passado glorioso. Retomadas, as ruas ainda pertencem mais à chuva do que aos homens. Mais parece uma maneira de se lavar a alma...
03/05/1982
O calor já não é tanto; a umidade absorve gradativamente minha indisposição. Estou me adaptando.
***
Belém é melancólica. Parece mulher triste e maltratada. Ouço que desleixada e suja por disputa de filhos ilustres - mulher de malandros coronéis, caprichosos e abusivos. Porém, a cidade mantém certa beleza - a beleza do casario antigo, da copa unificada das mangueiras solidárias... Belém é ultimamente bela - embora comprometida pela velhacaria autoritária, que promove a novidade malfeita e com esta bem coexiste.
***
A tarde é chuvosa sempre. Nuvens negras cobrem o céu e o chão; a vida cobre-se de cinza diariamente. Belém escura é lúgubre, um filme antigo; os antigos casarões de sombras úmidas reavivam seu encanto de passado glorioso. Retomadas, as ruas ainda pertencem mais à chuva do que aos homens. Mais parece uma maneira de se lavar a alma...
03/05/1982
segunda-feira, 29 de setembro de 2014
AO SENHOR DO TEMPO II
Desertei.
Deserdaste.
Desertificou.
(nos certificamos
assim do que amais:
- dos banhos os sais
que umidificais)
[...]
{se assim por enquanto
rechoverão quando?}
Deserdaste.
Desertificou.
(nos certificamos
assim do que amais:
- dos banhos os sais
que umidificais)
[...]
{se assim por enquanto
rechoverão quando?}
domingo, 28 de setembro de 2014
AO SENHOR DO TEMPO
do clima que endura
... e nada de chuva:
- como passa de uva
ao invés da fruta;
- ou bafo perdura
revés da frescura;
- calmaria escura
em convés de escuna...
Cadê o manda-chuva
o dono da estufa
(do sopro que enfuna
na seca a úmida
presença que a cura)
- mercê nos ajuda
você que é da luta?...
... e nada de chuva:
- como passa de uva
ao invés da fruta;
- ou bafo perdura
revés da frescura;
- calmaria escura
em convés de escuna...
Cadê o manda-chuva
o dono da estufa
(do sopro que enfuna
na seca a úmida
presença que a cura)
- mercê nos ajuda
você que é da luta?...
sexta-feira, 26 de setembro de 2014
DA ESPÉCIE
Cansamos, cansamos, cansamos...
Comemos (se o temos), comemos...
Dormimos, dormimos, dormimos...
Sonhamos, morremos - e infindos
mais fertilizam-nos jacintos...
Comemos (se o temos), comemos...
Dormimos, dormimos, dormimos...
Sonhamos, morremos - e infindos
mais fertilizam-nos jacintos...
DA FICÇÃO II
revisitando as revisitas
Por que remexê-lo
- o enorme novelo
de vida enlevada?
Da lida passada
por que me interesso
apenas se impressa?
Por que remexê-la
agora enredado
que desinteressa?
A enorme novela
(seleto o passado)
diversa do impresso
arrisca sintética
o verso pretérito?...
Por que remexê-lo
- o enorme novelo
de vida enlevada?
Da lida passada
por que me interesso
apenas se impressa?
Por que remexê-la
agora enredado
que desinteressa?
A enorme novela
(seleto o passado)
diversa do impresso
arrisca sintética
o verso pretérito?...
quinta-feira, 25 de setembro de 2014
REVISITA 18: AREAL
versões
Caminho hesitante nestas ruas de espinhos
Com os olhos vidrados de ver o mundo opaco
Quase cessa a procura, tamanho o cansaço
De divisar o horizonte sempre árido e deserto.
***
De tanto caminhar por estas ruas de espinhos
Tenho os olhos vidrados de ver o mundo opaco
Quase cesso a procura, tamanho o cansaço
De divisar o horizonte sempre árido e deserto.
***
De tanto caminhar pela vida a descoberto
tenho os olhos vidrados de haver o mundo baço;
quase cessa o que procuro, tamanho o cansaço
de empurrar o horizonte a mais árido e deserto...
Belém, 1982; Brasília, 2014.
Caminho hesitante nestas ruas de espinhos
Com os olhos vidrados de ver o mundo opaco
Quase cessa a procura, tamanho o cansaço
De divisar o horizonte sempre árido e deserto.
***
De tanto caminhar por estas ruas de espinhos
Tenho os olhos vidrados de ver o mundo opaco
Quase cesso a procura, tamanho o cansaço
De divisar o horizonte sempre árido e deserto.
***
De tanto caminhar pela vida a descoberto
tenho os olhos vidrados de haver o mundo baço;
quase cessa o que procuro, tamanho o cansaço
de empurrar o horizonte a mais árido e deserto...
Belém, 1982; Brasília, 2014.
sexta-feira, 19 de setembro de 2014
REVISITA 17: MASSA FALIDA
... quanto ao que esvazio-me, alego sua ausência de paixões.
Como frutos se amadurecidos
não colhidos
feridos por passarinhos.
(se no chão terão destino
verei)
23/09/1981
quinta-feira, 18 de setembro de 2014
QUADRA PRÓXIMA DA CHUVA
Do combinado do calor
com a secura derredor
derreter resulta à flor
o aguardo do amor do aguador...
terça-feira, 16 de setembro de 2014
DIDÁTICA PEDAGOGIA
Aula fugidia do dia
aula que se arrasta sofrida
(aquela arrestada perdida
creio, por particularista)
uma sala de aula esvazia:
- onde quarenta e nove havia
sete vezes sete seria
(o que multiplicar-se-ia)
a aula do dia traíra...
domingo, 14 de setembro de 2014
REVISITA 16: DESTINO
Destina-se uma faca
à carne preparada:
- a dividir as águas
das almas inundadas.
Destina-se à criança
brincar com sua balança:
- a burlar vigilâncias
de pesos e distâncias.
Destina-se uma faca
destina-se à criança:
- a ser predestinada
(reconhecida fada)
destina-se defronte
do que certo horizonte
(decerto que horizonte).
16/09/1981
à carne preparada:
- a dividir as águas
das almas inundadas.
Destina-se à criança
brincar com sua balança:
- a burlar vigilâncias
de pesos e distâncias.
Destina-se uma faca
destina-se à criança:
- a ser predestinada
(reconhecida fada)
destina-se defronte
do que certo horizonte
(decerto que horizonte).
16/09/1981
sexta-feira, 12 de setembro de 2014
DE UMA ILUSÃO ELUSIVA
A sala de aula vazia
depois das aulas do dia
(após toda a algaravia
babélica que a visita)
ecoa sabedoria?
[tal qualidade elusiva
como ilusão distintiva
(porque elusão desmedida
à parte mais discursiva)
ignoro-a ilusiva?]
Ou da porta, todavia
pelas carteiras, solita
deste orfanato, conviva
vento encanado seria?...
depois das aulas do dia
(após toda a algaravia
babélica que a visita)
ecoa sabedoria?
[tal qualidade elusiva
como ilusão distintiva
(porque elusão desmedida
à parte mais discursiva)
ignoro-a ilusiva?]
Ou da porta, todavia
pelas carteiras, solita
deste orfanato, conviva
vento encanado seria?...
REVISITA 15: SETEMBRO
O ciclo fecha-se
incompleto?
Minha satisfação muda
não encontra paralelo
conosco.
Teu humor agitado
força sua razão ao vislumbrar-me.
Mas não há cordas ou grilhões
(mesmo seda branca)
para rompermos...
04/09/1981
quinta-feira, 11 de setembro de 2014
DA FICÇÃO
O passado
impõe-se 'ado':
- põe-se dado
pois de fato.
Que pesado!...
(o trabalho
de inventá-lo)
REVISITA 14: UMA CARTA
curta, acerca de anos universitários
Nada posso dizer do sentimento hibernante sem hesitar frações de tempo presente. O tempo. Elástico ressecado, amnesia seletivo o pensamento (e seus rompimentos).
Dos anos que passam, apenas resquícios de momentos cruciais especificam. A alegria incontida; a decepção maldisfarçada. A memória detalha - mas o tempo que escorrerá das lembranças inexiste. Pura ilusão.
Assim é que condensaremos três anos de nossas vidas no espaço de um dedal. Esse dedo - de galinha ou de elefante - deslizará sobre as marcas dos semblantes, pelo que mudamos e no que aprendemos. A partir daí, entretanto - quanto às estórias da história -, outras poderemos: à medida que formos novos em nossos momentos, mais longe e difuso e enganoso será o passado, mesmo marcante.
Creio melhor assim. Justificará as demais tentativas.
29/08/1981
Nada posso dizer do sentimento hibernante sem hesitar frações de tempo presente. O tempo. Elástico ressecado, amnesia seletivo o pensamento (e seus rompimentos).
Dos anos que passam, apenas resquícios de momentos cruciais especificam. A alegria incontida; a decepção maldisfarçada. A memória detalha - mas o tempo que escorrerá das lembranças inexiste. Pura ilusão.
Assim é que condensaremos três anos de nossas vidas no espaço de um dedal. Esse dedo - de galinha ou de elefante - deslizará sobre as marcas dos semblantes, pelo que mudamos e no que aprendemos. A partir daí, entretanto - quanto às estórias da história -, outras poderemos: à medida que formos novos em nossos momentos, mais longe e difuso e enganoso será o passado, mesmo marcante.
Creio melhor assim. Justificará as demais tentativas.
29/08/1981
quarta-feira, 10 de setembro de 2014
REVISITA 13: AGOSTO
A luz tênue iluminando o teu rosto
contrasta a sombra com o claro exposto
pelas esquadrias de vidro
que amoroso enfeito a teu gosto.
Teus pensamentos oculto
dos basculantes que adorno
colorido.
(eu vigilante de um mundo
desenterrando em agosto)
20/08/1981
contrasta a sombra com o claro exposto
pelas esquadrias de vidro
que amoroso enfeito a teu gosto.
Teus pensamentos oculto
dos basculantes que adorno
colorido.
(eu vigilante de um mundo
desenterrando em agosto)
20/08/1981
terça-feira, 9 de setembro de 2014
REVISITA 12: LEMBRANÇA
de um recado
Se soubesses do brilho
com que penso os teus olhos
a noção de distância
desapareceria
como ave agonizante
do mar da superfície.
Eu não lamentaria tanto
contratempos, ventos contrários
aos quais fomos insubmissos;
tampouco envergaria a lança
(hipotética embora)
amiga das nossas feridas
- pois tanto és mais querida
na proximidade física
de eu mais sentir teus pensamentos.
[não estão tão mortas
as raízes entrelaçadas
por si em mim de ti]
15/08/1981
Se soubesses do brilho
com que penso os teus olhos
a noção de distância
desapareceria
como ave agonizante
do mar da superfície.
Eu não lamentaria tanto
contratempos, ventos contrários
aos quais fomos insubmissos;
tampouco envergaria a lança
(hipotética embora)
amiga das nossas feridas
- pois tanto és mais querida
na proximidade física
de eu mais sentir teus pensamentos.
[não estão tão mortas
as raízes entrelaçadas
por si em mim de ti]
15/08/1981
sábado, 6 de setembro de 2014
REVISITA 11: ESPERA E MUDANÇA
três fragmentos
Deusa do mar
transpiro o teu respirar
mesmo a milhas de distância da costa.
Faz minha boca voar
de mim salgar.
***
Ah, meus olhos, teus olhos
de um brilho a outro, ah, brilho
transfigure nossas vidas opacas!...
***
Saudade dá e passa
e vem e vai a vaga
não estique a prosa meu bem, rebentá-la
ressacada! A palavra
dá vontade e passa.
13/08/1981
Deusa do mar
transpiro o teu respirar
mesmo a milhas de distância da costa.
Faz minha boca voar
de mim salgar.
***
Ah, meus olhos, teus olhos
de um brilho a outro, ah, brilho
transfigure nossas vidas opacas!...
***
Saudade dá e passa
e vem e vai a vaga
não estique a prosa meu bem, rebentá-la
ressacada! A palavra
dá vontade e passa.
13/08/1981
SUPÉRFLUA
Um sol oblíquo
e um ar melífluo
(ambos contínuos)
algo acordaram
cedo um silêncio
mutualíssimo.
sexta-feira, 5 de setembro de 2014
quinta-feira, 4 de setembro de 2014
LIVRO DE HISTÓRIA
presa à retina
Duas meninas
raparigotas
par de garotas
das pequeninas
que a vida rota
disfarçaria
de olhos bolotas
negras retintas
porque tão lindas;
uma Carlota
outra Joaquina
(Debret lorota
Rugendas via)
posaram horas
livres de estórias
(serões patriotas)
pra uma visita
da minha vista
litografias.
terça-feira, 2 de setembro de 2014
TERRITORIAL II
Sou uma criatura da Asa Norte.
O resto da cidade - é a morte!
Sou caso de prospectiva
vida de eremita com sorte
em Brasília - senso teria?
(ilha nesta casa revista)
Ter de deixá-la, minha Asa
abandoná-la, minha taba
é como obrigar-me da Ceasa:
- hortifrutigranjeira, castra
das carnes paixões madrugadas!...
(baratos se houvessem, tão caras)
Se sou criatura da Asa Norte
(o avesso da outra asa, forte)
de móveis que removo imóveis
de carros que apodreço raros
de sonhos que aposento sonhos
por que perguntas - Sul, Sudoeste
Lagos Sul, Norte, satélites
aquela expansão a noroeste?
Nada contra as efemérides
dos lugares em que estiveste
- mas sou cacto da Asa Norte
(animal sem rodas, radical
de esporas, esporo do local)
talvez único dessa espécie.
...
[Brasília, da perspectiva
acima - sentido faria?]
O resto da cidade - é a morte!
Sou caso de prospectiva
vida de eremita com sorte
em Brasília - senso teria?
(ilha nesta casa revista)
Ter de deixá-la, minha Asa
abandoná-la, minha taba
é como obrigar-me da Ceasa:
- hortifrutigranjeira, castra
das carnes paixões madrugadas!...
(baratos se houvessem, tão caras)
Se sou criatura da Asa Norte
(o avesso da outra asa, forte)
de móveis que removo imóveis
de carros que apodreço raros
de sonhos que aposento sonhos
por que perguntas - Sul, Sudoeste
Lagos Sul, Norte, satélites
aquela expansão a noroeste?
Nada contra as efemérides
dos lugares em que estiveste
- mas sou cacto da Asa Norte
(animal sem rodas, radical
de esporas, esporo do local)
talvez único dessa espécie.
...
[Brasília, da perspectiva
acima - sentido faria?]
QUANDO ESQUEÇO
de bebê-lo
Café à tarde
esfria cedo
- esfria à parte
da arte que intento
(e descontento)
até que o tento
tarde destarte
[parte que acedo
descarte à arte]
Café à tarde
esfria cedo
- esfria à parte
da arte que intento
(e descontento)
até que o tento
tarde destarte
[parte que acedo
descarte à arte]
domingo, 31 de agosto de 2014
VANDECIRA
amanhã, dois anos
Pedi-me, a se defini-la
da Mércia, a que Vandecira;
urgi-me, pra separá-la
de Mércia, a jabuticaba
que já jabuticabeira
quase espinheira fingia
docemente apalavrada
de dar coice que pareça
quando entende que eu mereça
posteriormente a pomada
e urticária das besteiras
a respeito dos vespeiros
(francamente!) do parceiro:
- de banana, bananeira
da pipoca, pipoqueira
do cinema, companheira
até a liça sonolenta
de um fonema noutro poema
(de uma fome, cozinheira
da segunda, confeiteira
da terceira sobremesa)
...
Após tantas tentativas
pelas quantas Vandeciras
perdi-me, a mal defini-la
daquela, a que estenderia
Mércia que de Mércia saiba
(mas talvez a pena valha
apenas sintetizá-la:)
[radical na convicção
moderada da sua expressão]
{qual erótica poesia
de nossa pornografia}
Pedi-me, a se defini-la
da Mércia, a que Vandecira;
urgi-me, pra separá-la
de Mércia, a jabuticaba
que já jabuticabeira
quase espinheira fingia
docemente apalavrada
de dar coice que pareça
quando entende que eu mereça
posteriormente a pomada
e urticária das besteiras
a respeito dos vespeiros
(francamente!) do parceiro:
- de banana, bananeira
da pipoca, pipoqueira
do cinema, companheira
até a liça sonolenta
de um fonema noutro poema
(de uma fome, cozinheira
da segunda, confeiteira
da terceira sobremesa)
...
Após tantas tentativas
pelas quantas Vandeciras
perdi-me, a mal defini-la
daquela, a que estenderia
Mércia que de Mércia saiba
(mas talvez a pena valha
apenas sintetizá-la:)
[radical na convicção
moderada da sua expressão]
{qual erótica poesia
de nossa pornografia}
sábado, 30 de agosto de 2014
MÁ EDUCAÇÃO
grato a Almodóvar
a obrigação da hora
pra cada um que chega
da sexta na cerveja
(na sétima, que seja)
é má lição agora
comprida das demoras
[cumprida, comemoras]
quinta-feira, 28 de agosto de 2014
REVISITA 10: MANIFESTAÇÃO DE FÉ
Enquanto estás a olhar de longe
parecendo definir desilusão
mão invisível, aponto a ponte
a límpida saída, anunciação:
- não me assusta de antemão a tua ausência!
Teus pensamentos, irreconhecíveis
voltados contra quem os revelou
eu compreendo, em vários dos níveis
na certeza do que os desmotivou:
- não me assusta a imprecisão da tua ausência...
No interior, acolho uma luz terna
que um dia clareará nossa vivência
à parte de ti, também erma...
- e da mesma parte, embora extrema
não me assusta a escuridão da inconsciência!
Na vasta imensidão dos oceanos
algo deixou-nos, fechou passagem;
e enquanto cada ato a sós pesamos
outro caminho, de outro destino, abre-se viagem!...
23/07/1981
parecendo definir desilusão
mão invisível, aponto a ponte
a límpida saída, anunciação:
- não me assusta de antemão a tua ausência!
Teus pensamentos, irreconhecíveis
voltados contra quem os revelou
eu compreendo, em vários dos níveis
na certeza do que os desmotivou:
- não me assusta a imprecisão da tua ausência...
No interior, acolho uma luz terna
que um dia clareará nossa vivência
à parte de ti, também erma...
- e da mesma parte, embora extrema
não me assusta a escuridão da inconsciência!
Na vasta imensidão dos oceanos
algo deixou-nos, fechou passagem;
e enquanto cada ato a sós pesamos
outro caminho, de outro destino, abre-se viagem!...
23/07/1981
quarta-feira, 27 de agosto de 2014
QUANDO REVISITO
pretérito necrotérios
Minha poesia passada
(a que mel com fel rimava
uma e outra veia cava)
causa-me certo embaraço:
- como presente, o passado
se acotovela barato...
Minha poesia era enxada
de lápis, papel, mais nada;
poesia agora enxadada
grátis do papel, por nada:
- mas quanta novela fiava
dores de que hoje desfaço
ontem sabores de inchaços
poéticos - de putrefatos!...
[se nela eu exagerava
o que existia de fato
(o que de fato pensava
que se eximia dos fados)
este meu olho enxergava
(se extemporâneo o palato)
contemporânea a palavra]
Minha poesia passada
(a que mel com fel rimava
uma e outra veia cava)
causa-me certo embaraço:
- como presente, o passado
se acotovela barato...
Minha poesia era enxada
de lápis, papel, mais nada;
poesia agora enxadada
grátis do papel, por nada:
- mas quanta novela fiava
dores de que hoje desfaço
ontem sabores de inchaços
poéticos - de putrefatos!...
[se nela eu exagerava
o que existia de fato
(o que de fato pensava
que se eximia dos fados)
este meu olho enxergava
(se extemporâneo o palato)
contemporânea a palavra]
terça-feira, 26 de agosto de 2014
O que acontece
"O trabalho enobrece o homem"
(máxima ideológica)
Quando muito o trabalho, já pouca outra coisa.
M. B.
sexta-feira, 22 de agosto de 2014
REVISITA 9: ECLIPSE LUNAR
Criaturas do turno, preparai-vos:
- negra, cobrirá vosso prateado
terra, sob o peso dos lacaios
uivando seu espaço encadeado;
- então navegarão, espíritos
todos velhos, piratas aflitos
indagando-se, e ao tempo frio
quais tesouros do mundo sombrio...
(disporão, no rumo das estrelas
descaminhos de pedras na poeira
de um falso movimento, parelhas
agulhas - e um arco-íris na veia!...)
Rios fundidos com margens virão
tão mares da total escuridão
assim como irão - contudo, se mais
areia desaguarem, carga, cais...
16/07/1981
quarta-feira, 20 de agosto de 2014
terça-feira, 19 de agosto de 2014
PELA VIDA QUE SIGA
A entrada em calmaria
num movimento brando
desta vida esquisita
dos cinquenta mais quantos
pede uma ave-maria
(padre-nosso podia)
que já vou deslizando
(lisa a sensaboria)
nesse estar nem estando
nada andando ou boiando...
A entrada em sesmaria
de um desespero branco
nesta altura infinita
da fundura dos planos
pede outra ave-maria
(outra reza postiça)
já que sem solavancos
depois de anos de trancos
(dos destinos sombreando)
como eu repararia
qual a estrada em seguida?...
sábado, 16 de agosto de 2014
quarta-feira, 13 de agosto de 2014
REVISITA 8: BEIJOS CÁLIDOS DE SAUDADES
O frescor das manhãs tem meu desejo
de tua calma, sem revolta, aqui dentro
moderada, me aquecendo teus beijos
cálidos, na medida do bom senso...
Junto de ti mora um anjo
mandado por mim, um arcanjo
cuidando, da aurora ao crepúsculo
do que te deixa depois ver do escuro...
Meus passos percorrem teus passos
(por isso não perco, querida)
teus rastros de vista, meus traços
riscados de vida infinita...
Para cada saudade, ingênua palavra
solta, do silêncio, no papel que trava
expressando um requerer pulsante
musculoso vagalume errante...
***
O róseo entardecer tem meu desejo
de tua alma, sabedora, aqui dentro
da saudade, matando sem teus beijos
cálidos, incontidos de bom senso...
14/07/1981
terça-feira, 12 de agosto de 2014
MEU OLHO POR TESTEMUNHA
... desmaiando
esmaecendo
esvaindo
...
já se pondo
moribundo
e tão lindo
...
(meu sol indo
desde às cinco)
segunda-feira, 11 de agosto de 2014
DE POESIA QUANDO ENCURTA
Quando uma poesia curta
anoitece prematura
prevalece pré-noturna
enquanto arde por agora
(porquanto arte sem demora
antes tarde do que nunca);
quando essa poesia curta
antes parte do que nunca
transparece meia aorta
ante aquele que lhe aporta
sem que amadureça a forma
no espaço de meia hora...
[quando essa poesia surta
convalesce natimorta]
domingo, 10 de agosto de 2014
HUMOR DOMINGUEIRO II
Outra tarde muda
que se faz de surda:
- assim absurda
cega-me rotunda
(ceva-me infecunda
pra outra segunda)
domingo, 3 de agosto de 2014
HUMOR DOMINGUEIRO
A sua tarde muda
domingo não muda:
- ou se faz a muda
pra chave facunda
(pra boa segunda)
ou então se afunda...
sábado, 2 de agosto de 2014
QUADRA DA INVERSA OBRIGAÇÃO
compensação
... enquanto for mau afagar
um quanto de vida boa
seu contanto é desnaufragar
o tanto que a vida doa...
REVISITA 7: MÁXIMO MÍNIMO POSSÍVEL
Se bom silêncio for seu remédio
não me demore, pode ir pra casa;
sobre seu tédio, cobertor médio
fará sua mente sonhar pesada;
se for maduro um tempo futuro
sua direção, apresse certeira;
não me apodreça em cima do muro
tão bom menino, de eira sem beira;
se névoa seca for pela manhã
dissipar-te antes do meio-dia
retorne enfim minha esperança vã
melhor desse humor, como eu queria...
10/07/1981
não me demore, pode ir pra casa;
sobre seu tédio, cobertor médio
fará sua mente sonhar pesada;
se for maduro um tempo futuro
sua direção, apresse certeira;
não me apodreça em cima do muro
tão bom menino, de eira sem beira;
se névoa seca for pela manhã
dissipar-te antes do meio-dia
retorne enfim minha esperança vã
melhor desse humor, como eu queria...
10/07/1981
quinta-feira, 31 de julho de 2014
EM LAVOURA ARCAICA
que Raduan Nassar me perdoe
Em toda mudança
gemam sem tardança
brotos de lembranças;
cacos do passado
gemem passo a passo
toda vez que escavo
(cada caso é o caso)
pela vizinhança
do que sempre guardo
[do que sempre aguardo
como semelhança
fiel à balança]
MAN AT WORK
Por sobre os telhados
desta boa vista
ando meus olhados
previstos de cima
revistos abaixo
se mais detalhados
em boa medida
refaço o trabalho
que a vista aproxima.
MEN AT WORK
Três homens num telhado
conversando a trabalhar
[laborando a detalhar
(pormenorizado do ar)
divagado o devagar]
sobem desconsertados
tetos a conservá-los.
conversando a trabalhar
[laborando a detalhar
(pormenorizado do ar)
divagado o devagar]
sobem desconsertados
tetos a conservá-los.
terça-feira, 29 de julho de 2014
SEM COMPOSTURA
propositura
Literatura
na caradura
contra a brancura
contra a brandura
contra posturas
contra imposturas
contra a cultura
das inculturas
e porventura
contra a amargura.
Literatura
na caradura:
- das urdiduras
a que mais dura
(de fato cura)
Literatura
na caradura
contra a brancura
contra a brandura
contra posturas
contra imposturas
contra a cultura
das inculturas
e porventura
contra a amargura.
Literatura
na caradura:
- das urdiduras
a que mais dura
(de fato cura)
segunda-feira, 28 de julho de 2014
REVISITA 6: MANHÃ COMO AS OUTRAS
... mas cada bonita! O sol de fora é o firmamento iluminando estranhos, entranhas, ossos adentro. O colorido das ruas, das árvores e edifícios na terra, nas pessoas e automóveis, atinge uma claridade difícil.
Por todo lado há corações perambulando, a manhã lembra. As delícias da vida estão ali.
...
Se livre estiver meu coração andante
tê-lo é preciso, do interior ao exterior
sadio, brilhando vazio e galante
ao requerer-me conquistar só teu favor;
se de tanto olhar, olhar-te simplesmente
não vejo pedras, ou duro o descaminho
separando-me de ti, lua crescente
solar assim, acompanha-me sozinho!...
06/07/1981
MOMENTUM RELAX
demorou
De outro ponto de referência
neste mundo como aparência
(parecendo para a consciência)
alargo o mirante da ciência
de si mesmo - da sua gerência
de mim cobaia da experiência.
Desse ponto de referência
- outra casa, por excelência
vejo-me um delfim da leniência
ao sentir-se a fim com paciência:
- enfim, alguma complacência
autocondescendente mesma!...
domingo, 27 de julho de 2014
REVISITA 5: UM POEMA
em eterna gestação
Pensar belo ao longo de versos e estrofes...
Correr sangue do fino riacho íntimo...
Sentir por outras entranhas os calores...
Pulsar incontido este espaço finito...
Palavras fugidias, vento
que ouço ao menos calado e atento
porque se perderão no tempo...
...
Descansos, sonho fatigados abaixo do horizonte
onde deitam serenos teus olhos, morenas
pontes ao tráfego oculto dos desejos...
...
Sabes que não vim para brigar
- mas quando vejo desperto
teu branco humor negro passar
meu coração sente o frio
melhor do que está a esperar...
...
(mas qual a razão de tanto calafrio
se teu corpo mais veste-se do meu olhar?)
se teu corpo mais veste-se do meu olhar?)
01/07/1981
sexta-feira, 25 de julho de 2014
DO NORTE HORIZONTE
O que a frente descortina
à frente do que é rotina
(à frente do que neblina)
pousa o olho de rapina
em fogo de lamparina
[repousa a vista inquilina]
à frente do que é rotina
(à frente do que neblina)
pousa o olho de rapina
em fogo de lamparina
[repousa a vista inquilina]
REVISITA 4: PENSAR E SENTIR
Branda a carícia
da calma brisa
a embalar solto
teu sono morno
que navegante
se for adiante
o fará afogar
meu fogo de mar...
Se pensamento
teu vibro aflito
logo o esvazio
em sentimento
com mão macia
que acaricia
inteira o gesto
de vir mais perto...
30/06/1981
quarta-feira, 23 de julho de 2014
SE MUDANÇA RESIDENCIAL
O que arrumar
organizar
na chegada de um novo lar
para somente bem-estar?
De tranqueira
nas ombreiras
(a casa da vida inteira)
escalar a Mantiqueira?
Por que mudar, se em descartar
há muito de se mutilar?
[embora tecido morto
desdobra-se do pescoço]
organizar
na chegada de um novo lar
para somente bem-estar?
De tranqueira
nas ombreiras
(a casa da vida inteira)
escalar a Mantiqueira?
Por que mudar, se em descartar
há muito de se mutilar?
[embora tecido morto
desdobra-se do pescoço]
REVISITA 3: PRESSÁGIO
o primeiro poema (última versão)
Mergulho nos abismos da alma
sem opção, como única saída
à procura de verdadeira calma
sem peso, volume ou medida...
Sonhos, pesadelos, dissonantes
mais são contradições paralelas;
encontros de espíritos navegantes
de ventos enfunando caravelas...
Marco o passo
pisando firme, creio, e certo
fundo raso
longe de incrédulo, ou desperto...
(e quanto ao desafio de existir
eu vivo dos percalços com mais dor
viajando de querer partir
por amor de um único amor)
23/06/1981
Mergulho nos abismos da alma
sem opção, como única saída
à procura de verdadeira calma
sem peso, volume ou medida...
Sonhos, pesadelos, dissonantes
mais são contradições paralelas;
encontros de espíritos navegantes
de ventos enfunando caravelas...
Marco o passo
pisando firme, creio, e certo
fundo raso
longe de incrédulo, ou desperto...
(e quanto ao desafio de existir
eu vivo dos percalços com mais dor
viajando de querer partir
por amor de um único amor)
23/06/1981
sexta-feira, 18 de julho de 2014
LEMBRETE
Desde o início da jornada
(da jornada ao descaminho)
não inventaram nada
nada como estar vivo!
[de posse das faculdades
podemos eternidades
- por que mal o descobrimos?]
Por isso, felicito
felicito a manada
dos raros indivíduos:
- e caros entre os precípuos
aqueles redivivos...
quinta-feira, 17 de julho de 2014
REVISITA 2: O LIMITE REPENSADO
Para quem vive às voltas com pequenos problemas e dores consequentes de cabeça pequena, a receita não é tão simples. Deixar águas turvarem à mercê do acaso não é coisa considerada de gente séria, preocupada com realidades.
O que pode ser melhor em paz?
...
Um retorno ao oculto, longe de vaidoso exercício, às vezes se faz necessário. Nada de estudo diletante, puramente intelectual; mas mergulho sensível, largamente intuitivo, nos porões da alma que se tenha.
Todavia, sem menores auxílios.
...
Muitos olhares cercam o objeto. Entretanto, prevalece a ignorância, cristalizando-se à medida que passa.
...
Pressa. Pressa! Pressa...
A pressa que invento não é mensurável (nem validável ou confiável).
...
Reciclo interminável pensar muito o saber pouco.
...
Encerrarei minhas dúvidas num cubículo com aberturas, contudo à mostra.
10/06/1981
quarta-feira, 16 de julho de 2014
REVISITA 1: TEXTOS LIVRES
Nestes rascunhos, minha existência é posta, exposta ao julgamento público de um indivíduo: eu. Não que eu seja exclusivista: é preciso entender que melhor ninguém pode avaliar aqui dentro o que se passa.
Para escrever alguma coisa, preciso estar sob forte pressão emocional. No meu caso, significa estar confusamente apaixonado. O objeto de minha paixão? Deve estar por aí, brincando de gata e rata comigo.
...
Metido dentro de mim, enfurnado nas minhas coisas, jaz meu o eu. Anda não muito satisfeito com o que tem feito. Pudera, inconformado!... Mas o tédio acomoda, acomoda mais que ausência do que fazer. A cara na frente do espelho, no banheiro, tudo diz. Após ver você após você todo dia, não faz diferença feiura ou beleza: a gente ser é mesmo igual.
...
Sérgio. Em latim, um servo. Da sua própria angústia, essa mola que mal empurra adiante, para cima e para baixo.
...
Empaco. Parco e servil. Mas quando todos menos esperarem, o acúmulo de dejetos oriundos da minha infecunda atividade de pensar lançar-me-á à frente. Para outro estado que não de espírito.
09/03/1981
Sobre o Projeto Revisitas
Existem centenas de poemas (e dezenas de comentários, notas etc.) fora deste blog - anteriores a 2006, antes de Mauro Belmiro. Escritos a partir do longínquo ano de 1981 - quando um rapaz tão imberbe quanto impetuoso, ambicioso e arrogante, queria e imaginava poder, nas palavras de um amigo de então, "comer toda a terra e beber toda a água do mar".
A partir de agora, eles serão revisitados, e seletivamente incluídos nesta página ao longo dos próximos meses (talvez anos). Tais releituras serão críticas - o que significa que os textos que sobreviverem ao crivo contemporâneo (?) deste alterego (aqueles que não forem bobagens absolutas, absolutamente impostáveis) eventualmente sofrerão 'intervenções corretivas de forma', sem que se modifique, no entanto, o seu espírito e significado (ao menos assim espero).
[embora caiba lembrar que minha fidelidade ao passado é relativa - não apenas esteticamente seletiva, como assumidamente informada por critérios para uma reconstituição de trajetória que me seja reflexivamente útil e/ou interessante agora]
[embora caiba lembrar que minha fidelidade ao passado é relativa - não apenas esteticamente seletiva, como assumidamente informada por critérios para uma reconstituição de trajetória que me seja reflexivamente útil e/ou interessante agora]
Esses poemas (e o resto) 'sobreviventes' serão clara e devidamente identificados e datados - e portanto distinguidos, à medida de sua exposição cronológica, da poesia corrente aqui regularmente disponibilizada.
Espero que apreciem, mais do que nunca com a condescendência de sempre!...
M. B.
segunda-feira, 14 de julho de 2014
DO FIM II
um a sete, zero a três
Há muito já não somos mais os mesmos
donos de um mundo abaixo que chutemos
[pois a realidade complexifica
na medida a sua vida evolutiva].
Há muito já não somos mais aqueles
nem outros que tiveram seus poderes
[de Leônidas e Fausto aos Ronaldos
de Domingos sem espartanos altos].
Houve um tempo em que fomos vencedores
quando ao termo bastava os jogadores
[mas nossa realidade se complica
mais ainda se alguém a subestima]
{mais ainda se alguém de corrompida
fortaleza na certeza involuída}.
Há muito padecemos todos vesgos
(lunetas revirando olhos adentro)
do jogo parecendo que jogamos
volta e meia, ano a ano, pelos anos...
Há muito já escrevemos que esquecemos
(canetas revirando ossos a seco)
que o particípio - então participando
faz deste presente - um presente e tanto!...
sexta-feira, 11 de julho de 2014
DO RIO QUE VISITO
pelo seu desvio
Bipolaridade
da mineiridade
próxima do Rio:
- ótima friúra
(simultaneidade
neste desvario
pelo Paraibuna)
QUADRA JUIZ-FORANA XIII
Relações familiares
ilações malabares
implosões pelos ares
(mais do que aparentares)
04/07/14
ilações malabares
implosões pelos ares
(mais do que aparentares)
04/07/14
QUADRA JUIZ-FORANA XII
Brasil-e-Colômbia
Das quartas-de-final da Copa
contra o cinza do Paraibuna
contemporizo em Juiz de Fora
aquilo que talvez desuna...
04/07/14
domingo, 29 de junho de 2014
FUTEBOLÍSTICA
A contraprova objetiva
da objetiva realidade
(da existência de uma realidade
além das subjetividades):
- sua hostilidade a expectativas
[no jogo da bola, vãs fantasias]
da objetiva realidade
(da existência de uma realidade
além das subjetividades):
- sua hostilidade a expectativas
[no jogo da bola, vãs fantasias]
sábado, 28 de junho de 2014
LUIS SUÁREZ II
contra si mesmo
A reincidência
da reincidência
foi coincidência?
Sua armadilha
- a artilharia?
Patologia?
Patifaria?
(outro faria?)
[coisa da FIFA?]
Luis, seus botões
terão semanas
meses de serões:
- se Luisito, com jeito bacana
for sujeito do que lhe desanda...
A reincidência
da reincidência
foi coincidência?
Sua armadilha
- a artilharia?
Patologia?
Patifaria?
(outro faria?)
[coisa da FIFA?]
Luis, seus botões
terão semanas
meses de serões:
- se Luisito, com jeito bacana
for sujeito do que lhe desanda...
sexta-feira, 27 de junho de 2014
OITAVAS
Quarenta e oito batalhas
dezesseis sobreviventes
[outras dezesseis mortalhas]
e oito jogos transcendentes
(para os oito que vencerem)
num mata-mata daqueles
(a desculpa se perderem)
inesquecível por eles...
dezesseis sobreviventes
[outras dezesseis mortalhas]
e oito jogos transcendentes
(para os oito que vencerem)
num mata-mata daqueles
(a desculpa se perderem)
inesquecível por eles...
quinta-feira, 26 de junho de 2014
AURORA CREPUSCULAR
ou despertar do ocaso
Acordando agora
aquietei a manhã
de bater à porta
altercando terçã
o afã interior a ver se há estória
noturna malsã ante o dia afora:
- que desventura a madrugada dura
e meio escura reluz mais fundura...
Nunca a claridade
especial da idade
às portas estranhas de outra cidade
tem sido importante
a mim como adiante
e face doravante à questão posta:
- haverá uma manhã
que entardecendo sã
amanhã eu possa?...
Acordando agora
aquietei a manhã
de bater à porta
altercando terçã
o afã interior a ver se há estória
noturna malsã ante o dia afora:
- que desventura a madrugada dura
e meio escura reluz mais fundura...
Nunca a claridade
especial da idade
às portas estranhas de outra cidade
tem sido importante
a mim como adiante
e face doravante à questão posta:
- haverá uma manhã
que entardecendo sã
amanhã eu possa?...
quarta-feira, 25 de junho de 2014
DO PRÍNCIPE
partícipe e decisivo
... que responsabilidade
que peso, que gravidade
prum menino dessa idade:
- carregar o time inteiro
(e cinco estrelas no peito)
dançando no parapeito
do coração brasileiro
com a cabeça no lugar
dos cotovelos, a livrar
teus pés arteiros, ô Neymar!...
... que responsabilidade
que peso, que gravidade
prum menino dessa idade:
- carregar o time inteiro
(e cinco estrelas no peito)
dançando no parapeito
do coração brasileiro
com a cabeça no lugar
dos cotovelos, a livrar
teus pés arteiros, ô Neymar!...
segunda-feira, 23 de junho de 2014
NA LÓGICA DA COPA
(da paixão pela Copa)
... a contradição
maior da exaustão
da maratona
pelas telonas
é tanto maior
quanto é pormenor:
- paradoxal então...
... a contradição
maior da exaustão
da maratona
pelas telonas
é tanto maior
quanto é pormenor:
- paradoxal então...
O CRAQUE IMANENTE
no gol argentino contra o Irã
A arte nobre do arqueiro zen
compreende bem o seu alvo aquém:
- une o sujeito indivisível
ao que do objeto é invisível.
A flecha de curva de Messi
por fora da muralha persa
(opaca e num átimo aberta)
fugiu-lhe de olhar que acontece...
[ali o craque realizou além
a nobre arte do artilheiro zen]
A arte nobre do arqueiro zen
compreende bem o seu alvo aquém:
- une o sujeito indivisível
ao que do objeto é invisível.
A flecha de curva de Messi
por fora da muralha persa
(opaca e num átimo aberta)
fugiu-lhe de olhar que acontece...
[ali o craque realizou além
a nobre arte do artilheiro zen]
domingo, 22 de junho de 2014
LUIS SUÁREZ
contra a Inglaterra
Três chances reais
dois chutes mortais
e um menisco a menos, a mais
Luisito cirúrgico o traz.
Três chances reais
dois chutes mortais
e um menisco a menos, a mais
Luisito cirúrgico o traz.
O MISTÉRIO DE LIONEL
na selva adversária
Como uma perna esquerda
entre pernas direitas
(de todo um reino à espreita)
faz toda a diferença?
Por que esta perna esquerda
entre as pernas, dezenas
de vezes sem defesa
[curva fora da curva]
tão boa de nascença?...
Como uma perna esquerda
entre pernas direitas
(de todo um reino à espreita)
faz toda a diferença?
Por que esta perna esquerda
entre as pernas, dezenas
de vezes sem defesa
[curva fora da curva]
tão boa de nascença?...
quinta-feira, 19 de junho de 2014
MEU CONSELHO CONJUGAL
àquelas que estão de mal
Por que o futebol?...
Alguém pergunta
porque uma bunda?
Alguém questiona
Shrek com Fiona?
Alguém indaga
se faca ou bala?
Experimente
(condescendente)
olhar o jogo
mais simplesmente
que indiferente
- como ao esposo
que tu escolheste...
Por que o futebol?...
Alguém pergunta
porque uma bunda?
Alguém questiona
Shrek com Fiona?
Alguém indaga
se faca ou bala?
Experimente
(condescendente)
olhar o jogo
mais simplesmente
que indiferente
- como ao esposo
que tu escolheste...
DO RITMO DAS CASTANHOLAS
quanto à seleção espanhola
Quando há um modo
campeão de tudo
quanto há um grupo
campeão do modo
quando não sê-lo?
(quanto sabê-lo?)
terça-feira, 17 de junho de 2014
SWEAT BOOTS
sweet looks
... essas chuteiras
tão coloridas
são mais maneiras
cosmopolitas
(de Nike a Adidas)
por costureiras
terceirizadas
pelas quebradas
globalizadas...
segunda-feira, 16 de junho de 2014
INDAGAÇÃO FIDAGAL
de Alemanha-e-Portugal
Aonde vai Cristiano
já que perdeu-se em campo?
Seu espelho alquebrado
faz solitário o gajo
da bola suserano
ou solidário andrajo
parelho no relvado?
[seu time o pede tanto
agora mesmo o quanto?]
Aonde vai Cristiano
já que perdeu-se em campo?
Seu espelho alquebrado
faz solitário o gajo
da bola suserano
ou solidário andrajo
parelho no relvado?
[seu time o pede tanto
agora mesmo o quanto?]
domingo, 15 de junho de 2014
ENQUANTO A BOLA DA COPA NÃO ROLA
se o sinto, penso que inexisto
O tempo entre as partidas
(digo intervalos ansiosos entre os jogos do dia, entre os dias de jogo)
é o buraco do hiato
que orifício do vácuo
rompe o furo num rasgo
adentro aprofundado
centrípeto na fuga
da vida absolutamente destituída de sentido entre as partidas.
[e por favor: não me venha com comentaristas]
sábado, 14 de junho de 2014
EXÍLIO NO SOFÁ
além disso não há
O mundo fechado na Copa do Mundo
e eu fechado em copas, assistindo a tudo
- aos descaminhos da bola, sobretudo
por onde testemunho o acaso do triunfo...
Tanto atores que pelejam em conjunto
quanto fatores que percebo e articulo
não dão conta do mistério tremebundo:
- de haver craques a juízo de seus públicos
e mais juízes em prejuízo do que bagres;
- técnicos, palpiteiros infecundos
jornalistas, marqueteiros do que achares
e cartolas e lorotas nauseabundos
a serviço de outro esporte, submundo
deste que deu-me a sorte de amá-lo fundo...
quinta-feira, 12 de junho de 2014
A MAIOR JOGADA
que o dia inacaba
... Brasil-e-Croácia
com a contumácia
da publicitária
paixão monetária
(razão celebrada)
pela invertebrada
ação demandada...
... Brasil-e-Croácia
com a contumácia
da publicitária
paixão monetária
(razão celebrada)
pela invertebrada
ação demandada...
quarta-feira, 11 de junho de 2014
EM VICIOSO CÍRCULO REVERBERO
A facúndia
do gerúndio
inundando
meu estúdio
indispondo
me desvia
reluzindo
fugidia
indo e vindo
mais o dia
decompondo
(esquecendo
do que cuido)
para o gáudio
decrescendo
deste áulico
excretando
nostalgia...
terça-feira, 10 de junho de 2014
COMOÇÕES PERMANENTES
É comovente, sempre
a aflição dos que acreditam
que os protege uma rede
abaixo do que fariam.
São comoventes, sempre
nos rumos que escolheriam
- que há água suficiente
à frente da pior sede
porque sobreviveriam.
E comovente, sempre
a consciência deles, milhões
de vezes soltando balões
de oferendas aos deuses
num arremedo de razões
a pretexto de outros patrões...
a aflição dos que acreditam
que os protege uma rede
abaixo do que fariam.
São comoventes, sempre
nos rumos que escolheriam
- que há água suficiente
à frente da pior sede
porque sobreviveriam.
E comovente, sempre
a consciência deles, milhões
de vezes soltando balões
de oferendas aos deuses
num arremedo de razões
a pretexto de outros patrões...
segunda-feira, 9 de junho de 2014
domingo, 8 de junho de 2014
sábado, 7 de junho de 2014
À BEIRA DA COPA V
parecem que já começou
... nos amistosos
preparatórios
inamistosos
trocaram votos
persecutórios!...
sexta-feira, 6 de junho de 2014
À BEIRA DA COPA IV
... e quanto aos 'parças' do Barça?
Quando desembarcar
hinchada [a] Argentina
(Messi e companhia)
diga 'não vou posar
de anfitrião na esquina'
(ao menos com Neymar)
quinta-feira, 5 de junho de 2014
À BEIRA DA COPA III
há contusões e baixas
'A bruxa voa à solta'
lastimam jornalistas
no que soçobra à volta
ao fim da temporada
dos craques que vitima:
- sobre a forma física
sobrou carnificinas...
'A bruxa voa à solta'
lastimam jornalistas
no que soçobra à volta
ao fim da temporada
dos craques que vitima:
- sobre a forma física
sobrou carnificinas...
quarta-feira, 4 de junho de 2014
À BEIRA DA COPA II
veja as mistificações
Diante da Copa do Mundo
desenrola o tempo todo
retrospectivo a fundo
raso um filme caviloso:
- de Pelés predestinados
a Barbosas desgraçados
como se um ladeado de outro
não jogasse o mesmo jogo...
Diante da Copa do Mundo
desenrola o tempo todo
retrospectivo a fundo
raso um filme caviloso:
- de Pelés predestinados
a Barbosas desgraçados
como se um ladeado de outro
não jogasse o mesmo jogo...
terça-feira, 3 de junho de 2014
À BEIRA DA COPA
daqui a pouco entorna
Na contradição das emoções
da melhor invenção dos bretões
meio copo de tantos senões
adocicará, porém, no que há
num copo e meio - e tão cheio já
(bem tragado no que agora dá)
ademais do futebol a sós:
- nas pelejas de beleza atroz
o que faz de mais humano a nós...
Na contradição das emoções
da melhor invenção dos bretões
meio copo de tantos senões
adocicará, porém, no que há
num copo e meio - e tão cheio já
(bem tragado no que agora dá)
ademais do futebol a sós:
- nas pelejas de beleza atroz
o que faz de mais humano a nós...
segunda-feira, 2 de junho de 2014
[DUPLA] QUADRA [IN]TOLERANTE
A inércia
de um néscio
se explica
de resto.
[mas a inércia
de dois néscios
inexplica
a do resto]
sexta-feira, 30 de maio de 2014
ACASO VISITEM
assinem!
Os olhares que aqui vêm
- o que será que contêm?
Curiosidades - porém
por uns poemas de ninguém
(centenas neste armazém
ignorado e aquém):
- o que dirão para alguém?
Não vos olho nos olhos
pois que podem ser outros;
não lhos vejo os sobrolhos
(dois fariam escombros)...
Teus olhares que aqui vêm
- o que será que mais têm?...
(tenho ansiedades também)
quinta-feira, 29 de maio de 2014
SENTE-SE
Enquanto se espera
o que desespera
é o tempo perdido
(que tempo já era)
porquanto de espera:
- ao fim, desde o início
um tempo impedido
(pedido a princípio)
de haver o que dera...
quarta-feira, 28 de maio de 2014
A VER COMPOSTURA II
Das dores físicas
aos ares devidas
as dores nas costas
(algia de costas)
[não se mais tísica]
são demais dispostas
a ciclotimias
lombares-polares
(solares, lunares)
aos pares corridas
pelas ciclovias...
aos ares devidas
as dores nas costas
(algia de costas)
[não se mais tísica]
são demais dispostas
a ciclotimias
lombares-polares
(solares, lunares)
aos pares corridas
pelas ciclovias...
A VER COMPOSTURA
Feneço
(percebo)
de um jeito
que esqueço
de um jeito
de mesmo
a esmo
aceder
fenecer
(perceber)
direito.
terça-feira, 27 de maio de 2014
FAST_IDIOSAS
sermões em questões
- o que palavras quererão dizer
de sensível antes de algum querer?...
[que ao depois do depois caberia
antes vir do que antes causaria
(tal como um pensamento predisposto a sentimentos)?]
...
- o que atravessa depois de se ver
o que a pressa prepara pra correr?...
[um medo de precipitar - e se perder
ligeiro de ganhar, de perder - de vencer
o medo cedo de se apressar?]
... ...
- o que sei que deveria saber
que sou naquele show por mais poder?...
[que mal importa o que aconteça
desconheço o que bem pereça?]
- o que palavras quererão dizer
de sensível antes de algum querer?...
[que ao depois do depois caberia
antes vir do que antes causaria
(tal como um pensamento predisposto a sentimentos)?]
...
- o que atravessa depois de se ver
o que a pressa prepara pra correr?...
[um medo de precipitar - e se perder
ligeiro de ganhar, de perder - de vencer
o medo cedo de se apressar?]
... ...
- o que sei que deveria saber
que sou naquele show por mais poder?...
[que mal importa o que aconteça
desconheço o que bem pereça?]
segunda-feira, 26 de maio de 2014
À NOSSA DIREITA
[a vossa receita]
Infraestrutura cediça
em declínio - dos cortiços
de fedorenta cortiça
(da vida sobre caniços)
[onde se junta a carniça
antiga de compromissos]
venta há muito cercania.
Superestrutura tida
como se escorregadia
- como um plano movediço
(pode ser isso ou aquilo)
[pode ter sido de ouvido]
pela superfície fina
de apenas ideologia:
- quais as leis da economia?
- que fazer das nossas vidas?
Se sei? Leigo em agonia
presumo, introspectivo
meio retrospectivo
copo de expectativas...
[pressinto quase, intuitivo
Malasartes, uma dúzia
de modelitos facinhos
dos realizados caminhos
ricos - filhos de uma puta
redistribuição dos riscos:
privatização dos lucros
socialização dos vícios]
domingo, 25 de maio de 2014
Sobre a volta para estas coisas
Na nota "Uma pausa para outras coisas", de 31 de março último, comuniquei tempos afastados então à frente. Foram quase dois meses sem o prazer do instante, nos quais qualquer transcendência - da expectativa ao esforço realizador - correspondeu a uma necessidade prática (embora sem garantia de satisfação).
Hoje, o prof. Sérgio Euclides concluiu o que lhe coube fazer - e pudemos descansar. A partir de amanhã (esperamos), a poesia reocupará o seu lugar.
M. B.
Hoje, o prof. Sérgio Euclides concluiu o que lhe coube fazer - e pudemos descansar. A partir de amanhã (esperamos), a poesia reocupará o seu lugar.
M. B.
segunda-feira, 12 de maio de 2014
VOO ZUMBI
Ensimesmada
sob a rotina
desencavada
esta consciência
desencantada
súbita e clara
se vaticina
apalavrada:
- dessa consciência
desenterrada
(ainda por cima)
vou para o nada!...
sob a rotina
desencavada
esta consciência
desencantada
súbita e clara
se vaticina
apalavrada:
- dessa consciência
desenterrada
(ainda por cima)
vou para o nada!...
sexta-feira, 9 de maio de 2014
NA ESTAÇÃO QUE NÃO ACABA
chove chuva
Nove de maio
dez para-raios
inda ocupados
e água debaixo
régua dos passos;
se alguém mais sábio
souber de fato
- eles que caiam
e ela que raios
rios nos partam!...
Nove de maio
dez para-raios
inda ocupados
e água debaixo
régua dos passos;
se alguém mais sábio
souber de fato
- eles que caiam
e ela que raios
rios nos partam!...
quinta-feira, 8 de maio de 2014
domingo, 4 de maio de 2014
DA INTELIGÊNCIA DA LÍNGUA
Dentro da cabeça
um quebra-cabeça
de ponta-cabeça
a montar depressa:
- palavras à beça
de Machado e Eça;
- do que prevaleça
Graciliano, cresça
Veríssimo, e desça
Cabral e Cecília;
- dos Pessoas, ilhas
(Saramago à vista);
- do Barros, formigas
(Camões de vigília...)
[as mãos na coleta
repleta de prosa
seleta das obras
dos sãos e dos poetas]
***
{eis, pois, o problema:}
No centro, a cabeça
com letras a peça
a estender sentenças
pra entender quem meça
antes que pereça
e desapareçam
(e depois me esqueçam
antes que eu impeça)
um quebra-cabeça
de ponta-cabeça
a montar depressa:
- palavras à beça
de Machado e Eça;
- do que prevaleça
Graciliano, cresça
Veríssimo, e desça
Cabral e Cecília;
- dos Pessoas, ilhas
(Saramago à vista);
- do Barros, formigas
(Camões de vigília...)
[as mãos na coleta
repleta de prosa
seleta das obras
dos sãos e dos poetas]
***
{eis, pois, o problema:}
No centro, a cabeça
com letras a peça
a estender sentenças
pra entender quem meça
antes que pereça
e desapareçam
(e depois me esqueçam
antes que eu impeça)
De um autor que nunca chega
"48 | O que me acontece
Eu, que havia decidido ser, uma vez, o homem da completa ventura, que abrindo caminho a cotoveladas entre a multidão gritasse: Por favor, deixem passar um homem feliz!, tenho, ao contrário, que sair para que me favoreçam com uma coleta de compaixão por tudo o que acontece comigo, porque tudo me acontece. Veja se não:
Anseio a destruição das cidades e me sai um primo que com extraordinário talento e veemente empenho batalha pelas cidades, por sua prosperidade e aumento, resolvendo para o urbanismo todos os problemas do trânsito.
Descubro os melhores títulos de romances e ensaios, e pouco depois minha meditação me demonstra que o mais ridículo e injustificado de uma obra de arte é pôr-lhe um título.
Descubro o mais doloroso e intenso dos assuntos de romance, poema ou teatro, e tempos depois minhas meditações sobre estética me impõem a verdade de que o assunto em arte carece de valor artístico, é estra-artístico, e, além disso, a invenção de assuntos de arte é uma das máximas ociosidades, pois a vida transborda de assuntos.
Concebo e realizo alguns poemas arrebatados, eloquentes, e mais tarde, sempre querendo saber a verdade, descubro a da nulidade artística dos poemas, em prosa e mais ainda em verso, enquanto relatos e personificações.
Nego a morte e fico estudando o modo de prolongar a vida para o qual somente encontrei até agora o não usar terapêutica.
Esmero-me na elegância e talentos da redação literária, e me sai um personagem, o Presidente, que me eclipsa com a grandiloquência e lacrimosas desesperações de suas cartas, e outro, Quiçagênio, que tenta cortejar-me uma protagonista pelo sistema mais contraproducente e tedioso: a literatura de contista.
Espero a volta de um conto na esquina de voltarem somente os chistes.
Fico amigo do Leitor, que faz escrever melhor e me confessa que encontrou o autor que dá mais reputação aos seus leitores.
Enfim, quando tinha preparado o elenco completo dos assessores estéticos, científicos e filosóficos deste romance (três gramáticos, um químico, um historiador, dois descobridores, dois biólogos, um homem de gênio, um pintor de talento, três poetas, um astrônomo, dois músicos, um matemático, um psiquiatra), quando já amadurecia o plano de invenções, teorias embriológicas, palimpsestos decifrados e diálogos espirituosos de arte e filosofia a cargo dos personagens, eis que me cativa a simples conversa amável e generosa da amizade, e todo o meu descobrimento de apresentar um romance com laboratório e técnicos adscritos desmorona tristemente.
Não me resta mais do que proverbializar minha desventura, dizendo:
O mau é ter pensado
Depois de ter feito o mal."
Macedonio Fernández, Museu do romance da Eterna. Tradução de Gênese Andrade. São Paulo: Cosac Naify, 2010, prólogo 48.
Eu, que havia decidido ser, uma vez, o homem da completa ventura, que abrindo caminho a cotoveladas entre a multidão gritasse: Por favor, deixem passar um homem feliz!, tenho, ao contrário, que sair para que me favoreçam com uma coleta de compaixão por tudo o que acontece comigo, porque tudo me acontece. Veja se não:
Anseio a destruição das cidades e me sai um primo que com extraordinário talento e veemente empenho batalha pelas cidades, por sua prosperidade e aumento, resolvendo para o urbanismo todos os problemas do trânsito.
Descubro os melhores títulos de romances e ensaios, e pouco depois minha meditação me demonstra que o mais ridículo e injustificado de uma obra de arte é pôr-lhe um título.
Descubro o mais doloroso e intenso dos assuntos de romance, poema ou teatro, e tempos depois minhas meditações sobre estética me impõem a verdade de que o assunto em arte carece de valor artístico, é estra-artístico, e, além disso, a invenção de assuntos de arte é uma das máximas ociosidades, pois a vida transborda de assuntos.
Concebo e realizo alguns poemas arrebatados, eloquentes, e mais tarde, sempre querendo saber a verdade, descubro a da nulidade artística dos poemas, em prosa e mais ainda em verso, enquanto relatos e personificações.
Nego a morte e fico estudando o modo de prolongar a vida para o qual somente encontrei até agora o não usar terapêutica.
Esmero-me na elegância e talentos da redação literária, e me sai um personagem, o Presidente, que me eclipsa com a grandiloquência e lacrimosas desesperações de suas cartas, e outro, Quiçagênio, que tenta cortejar-me uma protagonista pelo sistema mais contraproducente e tedioso: a literatura de contista.
Espero a volta de um conto na esquina de voltarem somente os chistes.
Fico amigo do Leitor, que faz escrever melhor e me confessa que encontrou o autor que dá mais reputação aos seus leitores.
Enfim, quando tinha preparado o elenco completo dos assessores estéticos, científicos e filosóficos deste romance (três gramáticos, um químico, um historiador, dois descobridores, dois biólogos, um homem de gênio, um pintor de talento, três poetas, um astrônomo, dois músicos, um matemático, um psiquiatra), quando já amadurecia o plano de invenções, teorias embriológicas, palimpsestos decifrados e diálogos espirituosos de arte e filosofia a cargo dos personagens, eis que me cativa a simples conversa amável e generosa da amizade, e todo o meu descobrimento de apresentar um romance com laboratório e técnicos adscritos desmorona tristemente.
Não me resta mais do que proverbializar minha desventura, dizendo:
O mau é ter pensado
Depois de ter feito o mal."
Macedonio Fernández, Museu do romance da Eterna. Tradução de Gênese Andrade. São Paulo: Cosac Naify, 2010, prólogo 48.
sexta-feira, 2 de maio de 2014
BECO
Uma subida
(pressão sanguínea)
animadinha
(sexta à noitinha)
pela trilha escura que mais brilha;
uma corrida
que precipita
quase perdida
noutra corrida
(e mais pedida)
num contexto rico de pretextos:
- pra cada pedreira, pedraria...
...
Uma visita
à tabacaria de Dioniso
(revés que Apolo refaz preciso)
quinta-feira, 1 de maio de 2014
ENSOLARADA
Brasília em maio
A qualidade
da claridade
na quantidade
de saciedade
é claridade
da qualidade
da caminhada
pela cidade.
A qualidade
da claridade
na quantidade
de saciedade
é claridade
da qualidade
da caminhada
pela cidade.
quarta-feira, 30 de abril de 2014
QUE TEMPO
Tempo que treme
tempo que extreme;
tempo que espreme
(lembro que dentre);
limbo que imprime
livro que oprime
(vi que comprime);
time que lide
(lê-se que prime)
primo que inside.
tempo que extreme;
tempo que espreme
(lembro que dentre);
limbo que imprime
livro que oprime
(vi que comprime);
time que lide
(lê-se que prime)
primo que inside.
terça-feira, 29 de abril de 2014
SE CRISE
... quanto a alugar algum
ombro, ouvido, narguilé
a fim de chorar no rum
o fim do jaguareté
não vai a lugar nenhum
(bocas, coxas, Macaé)
salvo se estiver de pé...
ombro, ouvido, narguilé
a fim de chorar no rum
o fim do jaguareté
não vai a lugar nenhum
(bocas, coxas, Macaé)
salvo se estiver de pé...
segunda-feira, 28 de abril de 2014
A SURPRESA INCANSÁVEL
da rotina de uma retina arável
O brilho amarelo-claro
do velho disco dourado
- sempre o sumo espetáculo
do olhar receptáculo
de opaco consumo diário;
o velho brilho ordinário
o fático ensolarado
- caro ao parecer barato
olhar parassimpático
raro aparece de fato...
O brilho amarelo-claro
do velho disco dourado
- sempre o sumo espetáculo
do olhar receptáculo
de opaco consumo diário;
o velho brilho ordinário
o fático ensolarado
- caro ao parecer barato
olhar parassimpático
raro aparece de fato...
sábado, 26 de abril de 2014
AN OUTERVISION
a Stevie Wonder
O que ele fez
aos vinte e três
não alcanço:
- Innervisions
terei quando?
Mesmerized
ouço enquanto
mergulhado
eu recanto
tão molhado
tal balanço!
Spellbound
como danço!
all around
suas denúncias
implacáveis
com argúcia
impecável!
E uma chance
(duas chances)
de romance
for instance
na leveza
caribenha
da beleza
que ela tenha
como guia
o otimismo
do prodígio!
- o menino
amoroso
que é conosco!...
...
Como Stevie
(me disseram)
inexiste
pro que vemos
- o que vejo?
Haveria
(conseguinte)
otimista
num escuro
um balanço
da denúncia
do romance
da beleza?
Ou certeza
do que escuto
de cegueira?...
O que ele fez
aos vinte e três
não alcanço:
- Innervisions
terei quando?
Mesmerized
ouço enquanto
mergulhado
eu recanto
tão molhado
tal balanço!
Spellbound
como danço!
all around
suas denúncias
implacáveis
com argúcia
impecável!
E uma chance
(duas chances)
de romance
for instance
na leveza
caribenha
da beleza
que ela tenha
como guia
o otimismo
do prodígio!
- o menino
amoroso
que é conosco!...
...
Como Stevie
(me disseram)
inexiste
pro que vemos
- o que vejo?
Haveria
(conseguinte)
otimista
num escuro
um balanço
da denúncia
do romance
da beleza?
Ou certeza
do que escuto
de cegueira?...
sexta-feira, 25 de abril de 2014
TALVEZ SINTA
À medida
que esta vida
sobreviva
tanto escrita
quanto lida
(refletida
sobrevida)
talvez sinta
que está viva
na medida.
que esta vida
sobreviva
tanto escrita
quanto lida
(refletida
sobrevida)
talvez sinta
que está viva
na medida.
HORA DE CAIR ALGUMA COISA BOA
do que quer que acima exista
Um cometa
estafeta
se brilhante
de um profundo
outro mundo
semelhante
que umedeça
(e pareça
que eu mereça)
loteria
antevista
imprevista
gargalhada
orvalhada
já seria
na cabeça
chacoalhada
em revista...
Um cometa
estafeta
se brilhante
de um profundo
outro mundo
semelhante
que umedeça
(e pareça
que eu mereça)
loteria
antevista
imprevista
gargalhada
orvalhada
já seria
na cabeça
chacoalhada
em revista...
quinta-feira, 24 de abril de 2014
QUANDO DO LADO DE QUEM ERRA
a presteza que a Copa encerra
O silêncio desacostuma o murmulho
do poço crítico em favor do mergulho;
o silêncio não nos faculta um arrulho
pelo sapo engolido (sequer o engulho);
o silêncio perdurará até julho
- mas será esta a validade do embrulho?
(certo silêncio inculto, estulto, insepulto)
[talvez remível um dia (sem orgulho)]
{porém, contudo, todavia - que esbulho!...}
O silêncio desacostuma o murmulho
do poço crítico em favor do mergulho;
o silêncio não nos faculta um arrulho
pelo sapo engolido (sequer o engulho);
o silêncio perdurará até julho
- mas será esta a validade do embrulho?
(certo silêncio inculto, estulto, insepulto)
[talvez remível um dia (sem orgulho)]
{porém, contudo, todavia - que esbulho!...}
quarta-feira, 23 de abril de 2014
QUADRA [DUPLA] DO CORTE
A morte
conforme
é o norte
da sorte.
[são há pouco
houve muito
(ou descuido)
e está mouco]
conforme
é o norte
da sorte.
[são há pouco
houve muito
(ou descuido)
e está mouco]
terça-feira, 22 de abril de 2014
segunda-feira, 21 de abril de 2014
ANIVERSÁRIA
Cinquenta e quatro
de quadra a quadra;
superquadrada
(das superquadras);
de quadro a quadro
bem maltratada
(a candangada);
de quatro em quatro
pouco abusada
(no estelionato)
- embora amada
rente ao cerrado
seu céu arcado
de planetário...
de quadra a quadra;
superquadrada
(das superquadras);
de quadro a quadro
bem maltratada
(a candangada);
de quatro em quatro
pouco abusada
(no estelionato)
- embora amada
rente ao cerrado
seu céu arcado
de planetário...
O ASFALTO A SEGUIR
ressaca à vista
A cruz
no chão
reluz
(senão)
a luz
que não
reduz
(pifão)
[o aduz
então]
A cruz
no chão
reluz
(senão)
a luz
que não
reduz
(pifão)
[o aduz
então]
domingo, 20 de abril de 2014
QUADRA DA CLARA VIA
Esta é manhã daquelas
para o amanhã deveras:
- qual terçã fantasia
tal o afã deste dia!...
sábado, 19 de abril de 2014
PATO DE PARQUE
não de zoológico
Inchado de pipoca
a cara de boboca
eu me queria agora
seguro até a aurora
(não vejo horta nenhuma)
até as crianças do mundo nos revisitarem
(até os tratadores imundos nos revistarem)
parvo, apenado e feliz
(vivo acaso por um triz)
Inchado de pipoca
a cara de boboca
eu me queria agora
seguro até a aurora
(não vejo horta nenhuma)
até as crianças do mundo nos revisitarem
(até os tratadores imundos nos revistarem)
parvo, apenado e feliz
(vivo acaso por um triz)
quarta-feira, 16 de abril de 2014
CÍRCULO RACISTA
o fragmento
de pigmento
que segmenta
Um pigmento
nos fragmenta
num segmento.
Um segmento
nos pigmenta
num fragmento.
Um fragmento
nos segmenta
num pigmento.
Um pigmento...
de pigmento
que segmenta
Um pigmento
nos fragmenta
num segmento.
Um segmento
nos pigmenta
num fragmento.
Um fragmento
nos segmenta
num pigmento.
Um pigmento...
terça-feira, 15 de abril de 2014
DESOSSADO
O toque do meu despertar
(standard jazz, pra variar)
desvela-me logo a sonhar
tão cedo com outro acordar
mais tarde (talvez junto ao mar)
e então sim, reconectar
outro enfoque enfim, pra variar
(tango nuevo, pro celular)
(standard jazz, pra variar)
desvela-me logo a sonhar
tão cedo com outro acordar
mais tarde (talvez junto ao mar)
e então sim, reconectar
outro enfoque enfim, pra variar
(tango nuevo, pro celular)
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