quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

DO QUE PODERÁS AGORA

feliz ano novo!

Convenção ou não
esta noite irá

pela translação
que nova será

em todo lugar
que a comemorar

entre as doze horas
e suas auroras.

Então, por que não
(mesmo se mesmo ar)

por que não tentar
outra inspiração?

[senão, por que não
(apesar desse ar)

por que não soprar
noutra direção?]

DA MINHA PAISAGEM

Telhados abaixo

postes de pássaros
fios de macacos;

varandas abaixo

muretas de gatos
poleiros de galos;

janelas abaixo

cão encarcerado
pães recém-chegados

mármore quebrado
rotas de lagartos;

escadas abaixo

garagens, ramagens
portelas com mato

paragens, passagens
caminhos de ratos

poças de catarro
pontas de cigarro

selvagens, linguagens

árvores abaixo.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

MADRE DE DEUS

Madredeus

como os teus

tenho os meus:

- Zeus, Mateus

semideus, o antideus

seus plebeus, seus proteus

e os sem-deus (prometeus);

dipneus, pigmeus

jebuseus, fariseus

cadmeus dos egeus

europeus;

Pireneus, apogeus

ateneus, himeneus

perigeus

e o adeus (nos museus).

Madredeus

como meus

tento os teus...

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

RÉGULO

pelos séculos

Nos cubículos
mais ridículos

um estímulo
dois testículos

e montículos
de folículos

(tanto os pávulos
quanto os fâmulos)

têm seu vínculo
nos textículos

que vernaculo.

[meu currículo
em fascículos

sem estrídulo]

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

SOBRETUDO FERRÃO II

... pilhada

na quelha

ilhada

ovelha

cilhada

espelha

talhada

abelha

olhada

centelha

malhada

da relha

calhada

na telha

molhada

parelha!...

domingo, 27 de dezembro de 2015

NESTES TEMPOS DE CHIKUNGUNYA

Inquieto

inseto

pousou-me

sua fome.

E quieto

sensato

pousei-lhe

(sapato)

meu tato!

SEXTILHA DOMINGAL

let's move, for god's sake!...

O dia básico

do ser astásico

(aquém de frásico)

[porém de afásico]

porque ectásico

- queria fásico.

sábado, 26 de dezembro de 2015

DOIS MIL E QUINZE

balanço

Quinze por cento

do novo tempo

já se perderam

sob os escombros

do mundo velho.

...

[escaravelhos
de largos ombros:

- é o que desejo
que então sejamos]

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

QUADRA MODAL

Esta quietude
não é virtude

longe do vício
de estar alhures.

O VINTE E CINCO

o dezembrino

Dezessete
- é da confraria.

Dezenove
- avista a família.

Vinte e quatro
- requer romaria

vinte e cinco
- da sala à cozinha

vinte e sete
- ao que sobraria

vinte e nove
- pra quem der notícia

enfim do ano
- a quem de alegria...

Mas todavia
um vinte e cinco

- no vinho tinto
- na batatinha

bom solicita
mais compromisso

pois dia num quinto
de energia:

- quatro quintos
de inércia devida

comprometidos...

DIVINA

to the High Priestess of Soul

... eu o faria

Nina Simone:

- madrugaria

ouvir-te insone

outra menina

ao microfone

(outra Simone

ao telefone)

sem o teu dia

deixar-te insone

sem esta vida

living alone

anjo da noite

arte que some

amada Nina

minha Simone...

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

PROPOSTA DE NATAL

Na véspera do aniversário daquele

evocado diária, milenariamente

para a justificação de bem-quereres

bem-deveres, bem-poderes, bem-haveres

(boas ações, boas razões, boas paixões)

não seria o caso de, ao menos amanhã

deixá-lo descansar em paz naquela cruz?

EPISTEMOLÓGICA

Te rever

e rever

e rever

e viver

conviver

com mister

forever

embota

desbota

sabota

rebota

(labora?)

(reforça?)

[retorna?]

{renova?}

cada ver

cada ser.

[cada ser

de um rever].

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

EPISTEMOLÓGICAS

fragmentos

Experiências pontuais
geram conhecimento pontual.

[podem gerá-lo
 se limitá-lo (ao imitá-las)

particularizado].

***

Experiências contínuas
geram conhecimento - continuamente?

[não necessariamente
aquele necessário

que do modo exigente
é relativizado].

***

[familiaridade crescente:

- seu pavimentar mente
um enxergar decrescente

até olhar simplesmente].

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

NOTURNAL

A trevosa chuvarada
da chuvosa madrugada

quando penso se fechada
aconchega-me pausada

forte e fraca, forte e fraca

brava e calma, calma e brava

sincopada (a retomada)

na rotina ritmada
de cortina sanfonada

- uterina casa d'água

breve e opaca, sempre opaca
da trevosa madrugada...

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

DA EXTINÇÃO DA ESPÉCIE

desta subespécie

A longo prazo
(quando tal prazo?)

o descompasso
(de qual compasso?)

entre o querer e o dever

(o dever de desquerer?)
[o prazer de bem-querer?]

1a. centralizará o poder

1b. fortalecerá o poder

1c. abusará do poder

1d. enfraquecerá o poder

1e. colapsará o poder

do sujeito refazer.

...

[quanto de prazo
a longo prazo?]

{nós neste passo
sós neste barco?}

domingo, 20 de dezembro de 2015

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

REPTÍLIA

Um lagarto me sorri
do seu chão que percorri

[um passado socorri
num desvão aberto aqui].

Parece involuntário
- voltar-se solitário

tanto eu quanto o bastardo
no tempo deste espaço;

mas digo que os prefiro
reverberando antigos

já por demais extintos
naquilo que atribuímos

a animais: instinto
de espécie solidária.

...

{a lagartos recorri
pelo chão que me sorri}

OCULTAS

renovadas

A lua nova
da noite opaca

(a noite nova
da lua opaca)

nos argamassa

nos amassa

nos assa

a sós



...

[a rua nova
pernoita opaca]

{a rua opaca
pernoita a lua}

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

RASCUNHOS

Amarela
aquarela

esta manhã
é do amanhã.

[à janela
por sobre a chã]

***

Amarela manhã

aquarela amanhã.

[o que dela louçã]

***

Aquarelo

o amarelo
desta manhã

para amanhã.

***

Amanhã aquarelará

acaramelada manhã.

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

SE NÃO, POIS SIM

o caminho oposto

Nestas férias sem Nordeste
(ressentimento da peste!)

sem sua beleza celeste
sem seus prazeres terrestres

solicito ao Centro-Oeste
mais que nunca, esteja a oeste:

- bem longe dos caranguejos
daquele mar inconteste

porque invejoso o desejo
(o qual pragueja e praguejo!)

contraditório que almejo

guardado num lugarejo...

[inda que seja um bosquejo
tal de ter - mas sertanejo]

domingo, 13 de dezembro de 2015

QUADRA EXPLICATIVA

consultoria sem poesia

Em meio a três dias inúteis
a minha fé esteio nos fúteis:

- o dinheiro ganho naqueles
mais direito confere a estes.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

NO PLANALTO VENTRAL

Raios, clarões vários
trovões de cenários:

- quase o fim do mundo
desfecho iracundo

pra quem treme muito
(ou que teme fundo)...

***

Meu amor pegunta

porque toda chuva
gosta de assustá-la:

- acho que por nada
dada a natureza

(natureza dada).

QUINTILHA DO QUE (SE) SUCEDE

Leves dias - quando empilham

à medida que nos ilham

(da vida de que precisam)

[das lidas que os justificam]

breve mais pesados ficam.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

DESTE MOMENTO

usufrutuário

Estou recluso
e ensolarado

algo profuso
e continuado

nada confuso
desencontrado

do que desuso
abandonado

no que mais uso
desafinado...

Estou excluso
idealizado:

- um inconcluso
recuperado.

DRONE

While rolling the Stones

watching the Flintstones

the milestones

the tombstones

all the capones

(and their clones)

I must turn this cornerstone

alone

[with Nina Simone]

SEM SABÃO

a Pedro Sérgio, no seu aniversário

De manhã, São Pedro
bateu o cinzeiro

(todos os cinzeiros
do mundo carvoeiro)

sujando feio o ar:

- no alto o firmamento
e aqui o calçamento.

E o enxágue, Pedro?
Quem irá fazê-lo?

[ô santo fumante
pouco edificante!...]

...

{a natura veio
- e num só vareio

me lavou o Pedro

com tudo no meio}

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

TEMPORADA

Capa d'água
na sacada.

Empoçada.
Espelhada

- a moçada
nem molhada.

Festa n'água

que desagua

numa frágua...

PECILOTÉRMICA

A via do lagarto
se percorre sob o sol:

- à noite, congelada
pernoita reparada.

Se vida de lagarto
(lida e sorte alternadas)

corre igual ao caracol
mas também ao rouxinol;

há cobras e lagartos
há sobras e catartos

e soçobras e infartos

- mas também um girassol
sombreando dez espartos

no vaivém de lua e sol.

...

[diga amém aos girassóis]

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

EU PROMETO

Amanhã voltarei a correr

porque cochilo após o almoço
cochilo tal que é chumbo grosso:

- entre os vivos, ressaltam-se outros.

Porque afundo depois do almoço
na treva de um sono absurdo

- do qual voltar eu quase anulo -

amanhã tratarei de correr.

Logo após o almoço de sonho
- sonho culinário que almoço -

sobrevém sono um poço surdo
num bloco de granito escuro

trafegando o rio mais bruto

- um que dá vontade de morrer...

Por isso, volverei a correr
entre os vivos - os outros - todos -

a fim deste estar fortalecer
no que os dias hão de suceder.

ANÉIS

o negócio da nossa ciência política

Te dou alguns anéis
alguns contos de réis

pelos meus dedos fiéis.

Promessas em papéis
sentenças, aranzéis

em línguas de babéis

- ou fugas em batéis
(apesar dos parcéis) -

pelos meus dedos fiéis.

Te cedo alguns tonéis
desvios de farnéis

e sobras de cartéis
caça-níqueis, troféus

- festejos em hotéis
puteiros em apês

entregas de pastéis
em colchões de frouxéis -

pelos meus dedos fiéis.

Repassando chapéus
te cultivo plantéis

de chefes, barnabés
parlamentares rés

de juízes, coronéis
soldados em corcéis

convocando tropéis
(talvez até os quartéis)

pelos meus dedos fiéis.

Se necessário um viés
te envio alguns novéis

justiceiros cruéis
(rebeldes ou bedéis)

ou penas de aluguéis
(arautos de escarcéus)

pra afundar em marnéis
os que forem infiéis

a estes dedos - os dez!

E quando enfim os céus
pedirem mausoléus

escribas de cordéis
em torno dos incréus

operando cinzéis
brilhando fogaréus

encobrirão com véus
o quanto fomos réus

por nossos bons anéis...

domingo, 6 de dezembro de 2015

CULTIVO

Entre o fim do domingo

e a manhã da segunda

anoiteço um sentido

que depois me madruga

para as coisas bem-vindo

a partir da segunda

repartir no domingo.

DAS PRECIPITAÇÕES

de auroras

O domingo encoberto
pelas águas voadoras

descobre as maritacas
junto das mariposas!

Do silêncio soberbo
das últimas pessoas

elas vêm, às carradas
(falo das maritacas)

perturbando, espaçosas
o tempo de um acerto:

- entre esta madrugada
(fado das mariposas)

e agora a chuvarada
há pouco sossegada...

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

MÉTODO

escorço

Objetivo
subjetivo

qualitativo
quantitativo

contemplativo
é o meu motivo.

Daí assisto

a isso e aquilo
a esta e aquele

com alma leve
e atentamente

sem que um estorço
torça o esforço

pelos sentidos
comprometidos:

- tais fenômenos
como são mesmos

nem mais nem menos.

AFEITO

Um beijo
(teu queixo)

um queijo
(queijeiro)

trejeitos
respeitos
proveitos

- mas feitos
com jeito
suspeito -

aceito

(o efeito)

[defeitos
perfeitos]

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

SOBRE IR

possibilidades perfeitas

Ontem, vou hoje.
Hoje, irei amanhã.
Amanhã, fui ontem.

Ontem, fui hoje.
Hoje, vou amanhã.
Amanhã, irei ontem.

Ontem, irei amanhã.
Amanhã, vou hoje.
Hoje, fui ontem.

Ontem, fui amanhã.
Amanhã, irei hoje.
Hoje, vou ontem.

Ontem, vou amanhã.
Amanhã, fui hoje.
Hoje, irei ontem.

Ontem, irei hoje.
Hoje, fui amanhã.
Amanhã, vou ontem...

Ontem, fui ontem.
Hoje, vou hoje.
Amanhã, irei amanhã.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

DE UM BEI PERTO DO REI

Chegaram as férias
para as quais estarei

- de férias, não serei.

[férias de sequelas
folgo nas falésias]

Um dia, outras férias
serão amnésias

deste tempo destas;

chegarão aquelas
paramnésicas

nas quais florescerei.

[um frei longe da grei]

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

POETA

Enquanto sorvo
meu café lento

enfrento o estorvo
da fé que tenho:

- por qual talento
(ou desalento)

paro rebentos
torvos de feios

e os absorvo
filhos de corvos?

Vêm de terceiros
(dos controversos?)

primeiro os termos
segundo os versos

conspirem presos
formar quadrilhas?

Juntar tercetos
quadras, quintilhas

sextilhas mesmo
alexandrinas?

Quadro dantesco
quintos do inferno

se uma vez eco
de outra vasilha...

[se má poesia
a filha é minha!]

...

{enquanto sorvo
a fé que tenho

meu café bento
frente ao estorvo

esfria lento}

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

PESCOÇO

torcicolo eu forço
torcicolo eu torço
torcicolo eu drogo

Neste dia morno

um feriado morto

jaz em frente ao sono.

Exponho o seu corpo
(em recomposição)

a um romance insosso

a um jazz inodoro

a um filme de ocasião.

...

[o que lazer então?...]

domingo, 29 de novembro de 2015

sábado, 28 de novembro de 2015

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

INCRÉU

Quando soberbo o véu
que azul dá cor ao céu

(e ilhéu o contemplo)

me vejo um tabaréu
ao léu matutando...

[por que este belo véu
cobrindo o vasto céu

(me ocorre incréu pensar)

meu mausoléu será?...]

terça-feira, 24 de novembro de 2015

À MAIS DESEJADA DE TODAS

por bem e por mal, afinal

Férias batendo à porta...

Férias regando a horta...
Férias curando a aorta...

Férias pulsando em forma...

Férias cruzando a borda...
Férias comendo à porca...

Férias bebendo as boas
- loas somente às boas!

Férias curtindo a engorda...

Férias de peles negras
azuis, roxas, vermelhas...

Férias de aranhas vivas
férias de moscas mortas

enredando armadilhas:

- quando a estação entorta
o que afinal importa?

(o ponto da translação
em que nos encontramos?)

[o planeta em rotação
do qual desencontramos?]

...

{férias nos dando corda
de férias roendo a corda}

domingo, 22 de novembro de 2015

AVINDO

Domingo

comungo

comigo

contigo

com tudo

convindo

...

[consigo

contudo

dormindo]

sábado, 21 de novembro de 2015

PRESENTE ABSOLUTO

ironias à parte

Hoje tem Barça e Real
hoje o melhor futebol.

Hoje é bem vário o canal
que hoje centraliza o escol

hoje cobrando global
(hoje um por todo arrebol)

concentrado hoje em prol

de estar bem estando atual:

- hoje com Barça e Real.

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

DO ARCO DE UM VELHO

Do ponto de chegada
(nos braços de uma toalha)

ao ponto de partida
(no abraço da mortalha)

meus dias indo e vindo
(seu brilho vindo e indo)

embora renovados
embora repetidos

urdidos e perdidos

parecem despedidas:

- são dias esvaindo
(porfias sem sentido)

no vão da noite infinda...

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

DO CAMINHAR

Teu convite
nos permite

que eu insista

(e desista
em seguida
caso mingue)

no seguinte:

- leite, café
chá, samovar

e boa-fé.

[são quatro pés
a encaminhar

num canapé
à beira-mar]

terça-feira, 17 de novembro de 2015

GLIMPSE III

... a incidência
(reincidente)

de tua ciência
coincidente

traz ao olhar

ver e enxergar

...

[fez (de te olhar)

imaginar]

GLIMPSE II

... borboleta

(cançoneta)

flor violeta

recoleta?

- que olhadela

(ao revê-la)

ia austera

percebê-la?...

GLIMPSE

... a silhueta
de ampulheta

que sua areia
aligeira

na verdade
reverdeja

a vontade
de revê-la ...

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

domingo, 15 de novembro de 2015

SIGNUM VIRTUALIS II

Enquanto eu lia
(lia Cecília)

tocou um sino
(talvez um sino).

Porquanto ouvia
(que parecia)

também o via
(um tanto antigo)

que padecia

que era poesia:

- coisa longínqua
da mesma língua.

sábado, 14 de novembro de 2015

GUARDA BAIXA

A tristeza que me abate

do tipo que vem à tarde

[um tipo senão mais tarde

triste nem foi de verdade]

é uma que vem sem alarde:

- uma que não tenho alarme

como se um cão que em vão late.

POR QUE ESTA LUZ NA VIDRAÇA?

por que estás ensolarada?...

Dispersou a tempestade
que inundaria a cidade.

Teria sido espontâneo
(dado que foi subitâneo)

ou imprevisão do clima
(dado o que superestima)

ou talvez coisa de Pedro
(pro católico santeiro):

- fato é que a tempestade
(seu arsenal, na verdade)

debandou sobre a cidade.

...

Dada a mudança contrária
- sua refratária bonança

coube a uma criança explicá-la:

- o que move a natureza
é a vontade de cereja!...

...

[o que deseja a vontade
à vontade no que seja?...]

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

SIGNUM VIRTUALIS

Alguém tocou um sino

há pouco algo longínquo
ao parecer ouvido.

Há poucos sinos aqui

- nenhum que nos lembre ali
de lá, do além, de acolá

de acordar noutro lugar.

Neste mundo secular

se há tecnologia
não há coisa longínqua:

- alguém tangeu um sino
tão pouco ouvido daqui

mas ubiquamente acá
hic, here, zhèli, cá...

terça-feira, 10 de novembro de 2015

QUANDO ENFIM BATER NA BUNDA

a água do efeito estufa

A temperatura sobe

dentro, fora, sob, sobre

acima, abaixo, por entre

detrás, ao lado - na frente

dos que pelas costas mentem

(entre aqueles que o desmentem).

...

A temperatura sobe

sobe, coze, sobe, fode:

- quando derreterá uns cofres

após derreter seus cobres?...

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

UM DOM QUE (MAL) CULTIVO

meu soneto vesperal

O tempo convertido
no espaço do seu ruído

(e assim reconstituído
pelo som que imagino)

avisa os meus ouvidos
(que vezes têm olvido)

que passa o seu trenzinho
na instância que imagino:

- o trem do tempo vindo
(a outrem, tempo bem-vindo)

sozinho desde a infância
até aonde adivinho

[pelo eco que imagino
ser tom do seu destino]

domingo, 8 de novembro de 2015

AO INVÉS DE TRÊS CHINGOS

que venha mil domingos!...

...

(no domingo, a preguiça

da liça que respingo

eu xingo sem derriça

ou justiça de gringo)

...

[no domingo, eu enguiço

carniça na caatinga

catinga que enfeitiço

cediça, não distingo]

...

{cobiça, no domingo

dominga, de postiço

noviça, da qual gingo

zuninga de serviço}

...

[ao invés de hortaliças

que venha só linguiças!...]

sábado, 7 de novembro de 2015

QUADRA DA REVOLUÇÃO

Num sete de novembro
sonhamos que seremos

um dia, noite adentro

melhores que podemos.

LABORAL

atemporal

O meu dia é picado
em tarefas inúteis

(trabalho que retalho
retalho a rebotalho

até o fim da picada!)

ou é dia ocupado
por repetições febris

de atuações nada sutis
dada a rotina estéril.

Porque lida escamada
(porque viva e estancada!)

um tanto exacerbada
por elementos fúteis

por interesses hostis
(e desinteresses vis)

- de que dias passados
(quando enfim repassá-los)

eu me lembro inconsútil?...

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

XEQUE-MATE

Um silêncio afora
embarulha adentro

(certo movimento)

ao multiplicar-se
encoberto agora

antes de vencer-me
descoberto sempre.

terça-feira, 3 de novembro de 2015

BUROCRATA

Suspenso entre tarefas
urgidas entre esferas

de aptidões diversas
(e vocações quem sabe?)

aguardo o telefone
(aquém do que me cabe)

autorizar em nome
(que me não menoscabe!)

do quê negligenciarei

quem jamais conhecerei...

domingo, 1 de novembro de 2015

NÓS E O PÓ(S)

situação

A idade da poeira

(que a gente ressente
soprando o presente)

é a idade inteira

da vida ligeira
sem convalescença

teologicamente:

- mas vento premente
enquanto licença

das gentes que existem
segundo suas crenças

[desde a cabeceira
nos mitos de origem]

{até que a vertigem
daquilo que abeiram

converta a fuligem
naquilo que queiram}

sábado, 31 de outubro de 2015

SÉTIMO

quadra quádrupla do descanso

Sábado
cágado

sábado
láparo;

sábado
cânhamo

sábado
pássaro!...

Sábado
tálamo

sábado
bálsamo;

sábado
cântaro

sábado
bárbaro!...

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

A INVENÇÃO DA VIDA

A vida é uma invenção
(vez brotado o seu grão)

por ação e omissão.

O seria?
Poderia?
Deveria?

[a teria?]

- tais as questões da poesia
(aquela especulativa)

de sua filosofia.

A sua precariedade
(ontológica)

a sua impessoalidade
(estatística)

a sua amoralidade
(antisséptica)

não dizem que sim, nem que não

(não falam por si, nem que o são).

...

[vez brotada a invenção
da omissão como ação

toda vida é viva?]

...

{se eu inventei a minha

e por aí caminha

que distração a minha!...}

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

terça-feira, 27 de outubro de 2015

VOSSO CRIME (ENFIM) COMPENSA

apesar das aparências

Avança a bestialidade
por sobre a civilidade

- sobre as oportunidades
(reais) da virtualidade

por mais sociabilidade.

Inimputabilidade?

[responderão os herdeiros
de segundos, de terceiros

(e por último, os primeiros)]

VIDA COM SAÚDE

questão aos meus queridos alternativos

... o meu plexo solar
irá me ensolarar

caso eu 'manipurar'

quando vier operar
(de complexo a polar)

o convexo ventral

mais latitudinal
(porque crepuscular)

que herdarei afinal?...

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

QUADRA (DE ANTES) DA TEMPESTADE

Calmaria
com Maria

acalmaria

(o que armaria)

SOBRE A EDUCAÇÃO

state of the art

Tudo derrete
(senão liquefaz)

ou aborrece
(senão contumaz).

Se se arremete
com paixão audaz

(ou razão assaz)

nada acontece.

[se com confete
então suspicaz]

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

AMNÉSICA

Onde foi que fui
ontem, onde fui

que pôs talheres
comes e bebes

(corpos, mulheres)

e foi dito algo
(ad hominem?)

não mui fidalgo

[pois acordaram
desacordarem]

que esqueci hoje
de lembrar onde

fui - e foi ontem...

{será anteontem?}

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

QUADRA DA SENSATA INSIGNIFICÂNCIA

Penso o tempo numa escala geológica.

Penso o espaço numa escala astronômica.

No entanto, nesta lida microscópica

são apensos de uma vida econômica.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

O QUE FICA DE CECÍLIA

a Cecília Meireles

O que ficou de Cecília?...

Da  pessoa lírica
a quem eu amaria

(a que eu procuraria
saber se existiria)

se nos emparelhasse
a época devida?

O que ficou de Cecília

que desemparedasse
a pessoa física

(a que eu procuraria
saber se me amaria)

que atravessou a vida
ao lado da poetisa?

...

O que fica de Cecília

cerzida na poesia
que sonho à revelia

de sonos e vigílias?...

domingo, 18 de outubro de 2015

DOMINGO OPOSTO

e justaposto

Ah, o meu domingo

quando moroso
quando corrido

enquanto ocioso
enquanto ativo

(e remoroso
até que findo)

é delicioso
é deleitoso

apolínico

dionisíaco

cafeínico:

- como um amigo
que espirituoso

materializo!...

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

RETIRO

Exausto

de viver

o excesso

de assim ser

meu Fausto

descansa

egresso

da ânsia

de morrer.

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

QUANDO QUATRO SÃO CINCO

ritual significante

Para que algo faça sentido

além de pensá-lo preciso

contemplá-lo perspectivo

noutros quadros sem ressenti-lo:

1. o interior e constitutivo;

2. o anterior e substituível;

3. o posterior (re)constituído;

4. o exterior (in)cognoscível.

...

[mas se quatro são cinco, o digo?...]

TOMARA QUE GAIA

Um vento de praia
avoando jandaias

a tempo se espraia
maturando uvaias...

Como se cabaia
tomara-que-caia

desarma atalaias
perfumando as aias

rearmando tocaias
antes que o sol saia

se da mesma laia...

[por baixo de saias
sua viva azagaia

convida à gandaia]

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

terça-feira, 13 de outubro de 2015

CONSTRUCIONISTA

As coisas não são o que acontece.
As coisas mais são o que parece

que em vão editamos mentalmente

- pois mal publicamos entre a gente.

[é coisa que objetivamente
subjetiva o que então percebe]

...

As coisas são mais o que aparece
pelas fendas (convenientemente)

dessa precariedade consciente

que fragmentariamente tece.

domingo, 11 de outubro de 2015

QUADRA DA VIA RENOVADA

finally

To run again
(although in pain)

- what a joy, hein?

[enjoy the rain]

CIÇA

um mês

Mama, peida, caga
dorme, acorda, baba

- e o avô, a cada
coisa feita, nada

nada, nada, nada

muda sua fortuna
bem-aventurada

[rediviva a graça
pequenina o abraça]

sábado, 10 de outubro de 2015

SOLIDARIEDADE

1. Faço minhas tuas palavras
teu esforço de enunciá-las:

- o verbo, desde o princípio
(se junto dele um princípio)

distingue, quando explícito
as valas dos precipícios...

2. Faço minhas tuas palavras
difíceis por necessárias:

- mesmo instrumentalizadas
contrastando as palatáveis

nos discursos aceitáveis
(sobretudo os detestáveis).

3. Faço minhas tuas palavras
mormente as encalacradas:

- aquelas assujeitadas
a nada significar

além do que é protocolar
segundo os mestres do lugar.

4. Faço minhas tuas palavras
se forem esculachadas:

- se quando o que se apalavra
de manhã, à tarde lavra

enfático o duplipensar
como prática regular.

5. Faço minhas tuas palavras
as poucas que te são caras:

- as boas articuladas
em favor de poder dispor

seu contrapoder ao favor
malevolente de um senhor...

6. Faço minhas tuas palavras
no esforço de não calá-las:

- o verbo, desde que o sinto
o penso, neste finito

invólucro em que existimos
com capricho, como bichos...

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

SONÂMBULA

trágica a farsa

Aquela marcha
que muitos marcham

por ser marcada
(os passos acham)

poderá levar
tempo pra acabar

ao acordarmos

[se recordarmos
quando passará]

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA

quando Messi se machuca, não há chuva, nem Pachuca...

Espero que um dia Lionel

se torne o Senhor dos Anéis
da arte da bola nos pés:

- eterno na imaginação

(com a ajuda das invenções
tecnomágicas de então).

O espero porque o que Lionel
mais tem oferecido, e a nós

(amantes de um ludopédio
a anos-luz do que é médio)

um dia nos deixará sós:

- se hoje órfãos de uma contusão
amanhã permanecerão...

[tal como de Diego e Pelé
(nossos ancestrais lembrarão)

somos penitentes até]

terça-feira, 6 de outubro de 2015

SEXTILHA DO FIM DA SECA

antropomórfica

O céu pesou
de não aguar

e começou
a desaguar

no que secou
do seu pesar.

NECRÓPOLE CANDANGA

O Campo da Esperança

na ponta da outra Asa
(ali, outra morada)

daqui, é o fim da dança.

...

O Campo da Esperança
vejo com desconfiança:

- desde que, na Esplanada
pouco havendo, aventava

se o que via era nada.

...

O Campo da Esperança
me espera desde criança

desistir da Asa Norte:

- abandoná-la à sorte
da vida precipitar

(num vacuum crepuscular)

pela hora da morte!...

...

Do Campo da Esperança
no Setor Hospitalar

guardo alguma lembrança
de fundo domiciliar:

- antes, coube esperança
(sobretudo especular)

por nascer planejada

esta velha jornada...

sábado, 3 de outubro de 2015

AGORA CORRENTE

e rapidamente

A chegada de outros
- dos outros nosotros

ao finalmente só
originário pó

tão próxima de nós

vem desatar os nós
- agora, correntes

do tempo-semente:

- aquele amarrado
quando adolescente

que uma vez atado
(e reatado, mente)

não passa, na mente...

[de ilusão somente]

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

DA (IN)DETERMINÂNCIA

diante do paredão climático

As ondulações da brisa artificial do ventilador
nas persianas vitais desta sala enfadada de calor

concentram decerto atenção
ou bem a dispersam também

(espécies de meditação).

Oscilações de cortinas ao vento parecem supor
que a acidentalidade da imagem acima possa impor

(em decorrência suficiente do consequente torpor)

o tipo certo de atenção

da série de mais opções
que aquela miragem sustém

[solitárias na multidão
solidárias com a questão].

...

{cabe-me então recuperar
um corpo são do aquecedor - a ventilar outro lugar}

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

SOLICITAÇÃO

por monções até o fim (das estações)

Até que venha
o que me aquiete

cortando a veia

que não se aquiete
a natureza

do que acontece

na terça-feira
na quarta-feira

no quinto teste
da sexta prece

(ver se acontece)

enquanto esteja
na correnteza

um eu que preste...

VESPERTINAS

quatro quadras


1.

A tarde, branca e singela

(à tarde, quando amarela)

é pálida, das janelas

e cálida, nas donzelas...


2.

A tarde, quando encapela

por dentro de uma olhadela

se tarde, faz com que velas

ao centro enfunem estrelas...


3.

A tarde, quando dá trela

destarte, a tempo acautela:

- caso amiúde procelas

de alaúde, ela as parcela...


4.

A tarde, quando encastela

à parte, enquanto flagela

(se sólida a cidadela)

é mórbida, desta cela...

domingo, 27 de setembro de 2015

(SE NÃO JÁ MORTO, QUASE)

Um domingo enfunado
pelo verbo estancado

[por um tempo cansado
de ventos enfurnados]

é o que avento no espaço
deste texto que ameaço

e não desembaraço

{desde cedo esse teor
independente do autor}

sábado, 26 de setembro de 2015

DA FAXINA

hoje cedo

É sábado
dos bárbaros:

- da limpeza
sem nobreza

da aspereza
dos ácaros!...

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

EPICURISTA VII

Curvo-me ao tempo

(do contratempo)

com pensamento

num sentimento:

- estar atento.

POR PARTES

é da idade

Esta tarde
a cidade

caminhei pela metade.

A metade
desta tarde

caminhei pela cidade.

A cidade
na metade

caminhei por estar tarde.

...

[nesta tarde
na cidade

caminhei pela metade]

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

DO FIM DA COMPOSTURA

na cena jurídica (duas observações)

1. Ao menos à distância
(à margem, na verdade)

percebo a exuberância
(exótica, destarte)

daquela ignorância
togada da vaidade

cevada na constância
de sua impunidade:

- viceja na abundância
da vitaliciedade;

- atua em consonância
qual a moralidade;

- placebo em substância
tal a necessidade...

2. Par à repugnância
que mais exorbitâncias

ensejem à vontade
(entre um e outro mascate)

percebo uma alternância
(senão uma novidade)

naquela ignorância
tão dada a disparates

cuja deselegância

olente de fragrâncias
paleovernaculares

chegou aos populares:

- na ausência das flagrâncias
urgência de avatares!...

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

EPICURISTA VI

não há realidade a temer

... se me quedo sem escrever
por outra razão que prever

a inutilidade de haver

[esta, aliás - que paixão por trás!]

a mediocridade do ser
que sou impõe-se depender

da disposição do poder
que posso de contradizer

tal imprevisão - e escrever!...

domingo, 20 de setembro de 2015

ZORRO, SOCORRO!... II

hoje cedo

Vou caminhar
daqui a pouco

pra não pensar
(pra compensar)

que não corro

não percorro

nem recorro:

- ao divagar
só decorro

[ao me entregar
tão devagar]

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

DA SUBVERSÃO DA SONECA

por que abismo nela?

No meio do dia brilhante
tal escuridão ofuscante

rebrilha no dia potente
opaca escureza presente

em sonhos - certeza o bastante

enquanto sesteio inocente

do quanto o meu sono apreenda
do tanto que não compreendo

- cada qual pesadelo adiante...

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

PEREBA

recorte

O passe

que passe

dá sorte

(má sorte).

O drible

que tente

(nos livre
 que finte!)

- é a morte.

Já o chute

(consorte
do corte)

pro norte:

- seu forte

no esporte!...

terça-feira, 15 de setembro de 2015

PERSPECTIVA DE CLASSE

do golpe abaixo da cinta

A eloquência dos de cima

- qual verdade cristalina
de uma ciência repentina
que repetem paulatina

cai violenta nos de baixo

como facada ou balaço

(preocupada todavia
face a tal desembaraço)

[educada no regaço
de que não há mais saída]

{ocupada morro acima
com o que esconde debaixo}

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

EPICURISTA V

Se disponho de café
como dispõe um mané

passo bem sob o boné
como bem fosse um josé...

Se disponho de puré
ou do que come a ralé

(acompanhando o café)

já evito a ação das polés
ou o vaivém das marés

habilitando sopés

sem depressão ou revés
numa montanha ao invés

- porém flanando através
desta galé sem convés...

EPICURISTA IV

Ampara a vida calma
(pretérita a medida)

um sono vindo d'alma
embora ao meio-dia:

- num sonho que enuncia
que no futuro havia

o que o presente empalma...

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

FÁTICA

Uma fina dor de cabeça
(da ausência de café na mesa)

afina a minha benquerença
por esta amena sobremesa

que me lembra a tua presença
depois de saída à francesa

(antes de chegada a despesa):

- nossa conversa ao pé da orelha
sobre assunto que deu na telha...

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

EPICURISTA III

fragmento

... sobre a dor e a morte
crê dispor de sorte!

- uma aporta o norte
do prazer que corte;

- outra é outro aporte
sem prover que importe...

terça-feira, 8 de setembro de 2015

EPICURISTA II

Que prazer, que cansaço

contemplo

no que disponho diante

do espaço

mas indisponho adiante

no tempo?

Que dizer que embaraça?

Que fazer que estiraça?

Que porvir os abraça

do seu negror radiante?...

...

[com tempo

o espaço

contemplo

confiante]

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

SETE DO NOVE

No dia da pátria
das minervas suas

há septimátrias
na areia das raias

por mais tropicália
à beira das ruas...

No dia da pátria
há minervas nuas

na ombreira das alas
dobradas nas puas

douradas nas praias
sombreadas às duas...

Na data da pátria
eu lembro que a pátria

é a ideia de pátria:

- bandeira dos xátrias
grilheta dos párias

é uma visão casta
que maya, não basta

(aos brâmanes, nada)

domingo, 6 de setembro de 2015

NO ZÊNITE DA SECA

sinais

O tempo do limite
expor sua dinamite.

É pálido o grafite.

Lento qualquer trâmite.

Há falta de apetite.

Nossa a neurodermite
vossa a pneumonite

(parecem proctites
aquelas vaginites).

Rareiam teus palpites.

Da ausência de convites
padecem socialites.

Entre a plebe e as elites
vivos dão mortos quites...

sábado, 5 de setembro de 2015

OTÁVIO

Meu amigo querido

partiste teu destino

num número infinito

de possibilidades

que as probabilidades

igualam no sentido

da gratidão que sinto

por teres existido.

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

A ESTA ALTURA DA EPOPEIA

Ressecada a ressacada
das ideias contra a tela

(recomputadorizada
por mais letras sobre as teclas)

em mais outra temporada
de estações estacionadas

talvez caiba na cadeia
das palavras descoradas

das finadas de poética
melopeias afinadas:

- analfa ou alfabéticas
orais ou hipotéticas

a esta altura da epopeia
cantilenas encurtadas!...

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

ELETROCARDIOGRAMA

Minha vida caminha
apesar de sozinha.

Minha vida encaminha
sopesar que avizinha

em ondas esquisitas

[medidas de batidas
de choques, de subidas
descidas de vencidas
(berloques de feridas)]

aquela reta linha
que a máquina vindica

enfim das cavas lidas
das sondas exauridas

rente à tela - à tardinha...

terça-feira, 1 de setembro de 2015

CENSO DOMÉSTICO

senso animal

Amiga
formiga

me diga
se a lida

- na cozinha da Vandecira

é a vida
querida...

NATUREZA DO POENTE

antes que avermelhe

A beleza
pipoca
amarela

na panela
da hora
da reza.

PROJETO DE VIDA

Sob o teto
céu a pino

amarelo
sobre um piso

arquiteto
interciso

o que é belo
dividido

(paralelo
e adstrito)

entre um teto
antevisto

e o novelo
onde piso.

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

FACE A MEDIOCRIDADE

nenhuma honestidade

Toda vez que me sento
diante da tela, tento

(é assim que me apresento)

protegê-la do invento
centrípeto de um vento

(é assim que o represento)

que-interno-ocupa-o-hiato/vácuo-do-pensamento.

Desrespeito o momento
[o vazio do texto]

pretextando um evento?

Ou respeito o cinzento
intentado, a despeito?...

[qual mesmo o sentimento
de fraude em movimento?]

...

{diante da tela, avento}

domingo, 30 de agosto de 2015

DOMINGA III

À noite posso
dizer que nosso

amor de conto
labor perdura

no contraponto
da hora escura.

DOMINGA II

Tarde que cura
tarde, que dura

temperatura
de cozedura

até que murcha

(de sol, a lua)

DOMINGA

Manhã manhosa
(manha brilhosa)

esta que acorda
em mim agora

a fim de nada
que mais parada.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

CECIL

ao espécime que o matou

O que se esconde
por trás dos montes

de um horizonte
sem brutamontes

ou caçadores insatisfeitos
a despeito de quase perfeitos?

Imaginemos:

- rinocerontes
brancos e negros?

- sigmodontes
por aqui mesmo?

- bichos com fronte
chifres/presas/pelos/penas/pontes

para as mil fontes do viver pleno?...

...

[imaginemos

retrocedendo: os eucariontes
antes do superior Pleistoceno]

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

NA MINHA CIDADE

todo fim de tarde

como toda arte
que outrossim nos arde

(como se avant-garde)

repete-se à parte

singularidade.

DOMINGO À NOITE

possibilidades

Todo fim de domingo

(do bom tempo, o respingo
que insistimos distinto)

desatina sentidos:

- é a pior hora de muitos
por calarem seus uivos;

- é a pletora de poucos
por ouvirem-se moucos;

- talvez a espora de outros
considerados loucos

[então nascidos potros
talvez crescendo lobos]

{senão nascidos outros
desenvolvendo os lobos}

sábado, 22 de agosto de 2015

SENSÍVEL II

O que o brilho do sol anima
(aponta, aquece, aporta, alia)

em sua diária travessia

se logo é tarde fugidia
em minha solitária ilha?

Por que, da solidária trilha
(de estrela que a tudo rebrilha)

presumem-no ser que ilumina
a toda e qualquer superfície

se pródigo, à noite desiste?...

[ainda que vença a madrugada
pontualmente, a cada jornada

o que ao brilho do sol resiste

em mim, se padece com nada]

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

PEQUENEZES

aos cãezinhos de Luis Fernando Verissimo

Nossas certezas
intempestivas

nossas destrezas
inexpressivas

- na ventania
respectiva -

quando coincidem
impositivas

cheiram fuligem:

- pulverulentas
ferem as ventas

ao colidirem

poeira apenas.

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

VICE-VERSARIA?

vela e parede, parede ou vela

Teu muro macio
dispensa o que eu digo.

Pura alvenaria
dispensa que eu diga.

Se há cura auditiva
dispensa que o diga...

[dispenso que o digas
(se então recíprocas);

dispenso o que alisas
(duras cantarias);

repenso armistícios
(se os urde 'bem-vindos')]

***

Teu muro maciço

me amura preciso
em duplo sentido.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

ANTES DO GELO

à cupidez tropical

Acima, o mundo é solar
mesmo na noite polar...

Abaixo, muito está no ar

arrebentando o colar
bestializando o falar

contaminando o pomar
envenenando o lagar

(submetendo o lugar
vitaminando o dólar)

degenerando polar...

domingo, 16 de agosto de 2015

ZORRO, SOCORRO!...

retomar Sísifo, suponho

Quando não corro
domingo, eu morro

descendo o morro
caindo o forro

enquanto borro

minguando o jorro
sumindo o esporro...

[velho cachorro
bicho chinchorro!...]

sábado, 15 de agosto de 2015

NO MUNDO DO TRABALHO

ilusões de aço

Eu caço

(mormaço)

eu laço

(cansaço)

eu faço

[bagaço]

eu passo...

{baraço}

...

eu _ (traço!)

domingo, 9 de agosto de 2015

VAN HALEN 1978 II

punturas

Eddie - tua faca
aprimorada

[por meu tempo de escuta da estrada]

Alex, crava

Mike, agrava

Dave, abraça...

VAN HALEN 1978

Neste sábado aprisionado

- cedo rosário de demandas
seculares e cotidianas

apequenando-me - são tantas!

Eddie, David e os rapazes
(será que fizeram as pazes?)

tocam ouvidos impudentes
(e nervos que adentro os espelhem)

de algum movimento que esquente
algum nó cego da corrente

deste passo domesticado.

***

Como de ontem foram capazes
(rookies, rockers especulares)

de vir tão espetaculares?...

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

PROBLEMA LÓGICO-POLÍTICO

para as vestais de plantão e os puros de ocasião
(além de nós e de vós)

A hipocrisia

(sua recidiva
reiterativa)

nos admira:

- por que seria?
- por que haveria?

[admitamos:]

1. A hipocrisia
é seletiva

- mas extensiva.

2. A hipocrisia
generaliza

- mas discrimina.

3. A hipocrisia
pormenoriza

sem empiria.

[e perguntemos:]

4. A hipocrisia

ética alia
se jurídica?

5. A primazia
da hipocrisia

reconcilia?...

terça-feira, 4 de agosto de 2015

PARA ALÉM DESTA CIVILIZAÇÃO

fora do lugar, 'bora pra Uranos!

O mundo - tal como o conheçamos
(talvez nem mais o reconheçamos)

desmorona - e vem acelerando
com solidez que o desconheçamos.

A despeito de estranho, entretanto
a carnavais e tais (por enquanto)

quiçá me reste e arraste, salvando
(desta cor que nos finge de brancos)

a minha pele o Cacique de Ramos:

- já que tem cinquenta e quatro anos

de inclusividade desfilando
de solidariedade sambando
de amor pela cidade sobrando

quem sabe abrigue um contemporâneo?...

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

O MACHADO DE ITAGUAÍ

no pescoço de alguém daqui

Neste momento da vida nacional

(além desta ficção individual
em que ínfimos nos situamos - na qual

cremos pios como a tal - vida real!)

um midiático Simão Bacamarte
opera de Curitiba, com arte

outra demão de Joseph McCarthy.

Para além do horizonte da experiência

no altiplano dos heróis da inconsciência
(pousada de clamores por decência!)

terceirizamos o que nos compete:

- consertar o que partido apetece.

sábado, 1 de agosto de 2015

sexta-feira, 31 de julho de 2015

TEMPLO DE VIDRO

No aeroporto
meu desconforto

com o ostensivo
senso acrítico
de um modernismo
moderno pouco

(um entre os ismos
do consumismo
mais boquirroto)

é meu conforto

[não ser tão tolo]

quinta-feira, 30 de julho de 2015

O INDESEJADO DA HORA

e suas formas: história, lembrança, memória

Adentro, agora mesmo
afora, neste momento

o passado, meio a esmo
perpassa, desenterrando

meu passado: vem por todo lado!

Um passado, de repente
repassando no presente

debruçado no meu poente
se convém pouco avistado;

ente de outro continente
embrulhado de presente

sobrevém de trás à frente:

- na vigília, no sono
na penúria do sonho;

na geleia que ponho
na peleja que colho

sem ideia de como;

sem que eu o passe a limpo
sem que eu o queira vindo

sem que cerveja ou vinho
sem que eu o inveje findo...

O passado me vaza
eu o vazo trespassado:

- ambos ultrapassados
datados, etiquetados

e eu tentando desabraçá-los!...

[o instante - enorme lá fora
o adiante - o que me resta por ora

nesta vida implorando por vida

(o bastante - a estante, a prosa
a poesia corrida, a corrida...)

- e vem o passado e sua tropa
assando o esvaziamento das tripas?!...]

Não bastasse eu estar lento
não bastasse desatento

(nem brancos meus pelos nem negros
nem peles castanhos crescendo

a boca, escurecendo
a mente, se espremendo

nenhum sentimento)

e me apagasse contra o vento

se é passado - vem desconvidado:

- demônio verdoengo
importuno legado!...

terça-feira, 28 de julho de 2015

NO DESERTO

retirado da Laguna

Me sinto um Rommel
um Camisão

- um coronel
sem kamikazes

se retirando
com seus bordados

nos seus farrapos
meio acercado

by Montgomerys
- but del Chaco...

...

(sonhei o Rommel de camisão
esburacado num carroção)

[já não bastasse
o lado errado

em vão custasse
estar errado]

domingo, 26 de julho de 2015

EM SUMA

Eu comecei assim
sem fundo.

Sem forma, conteúdo
vazio no todo.

Depois, veio o mundo
e eu, enfim

recheio de tudo
(e o saco cheio, de novo):

- do cubo, dos tubos
da roda, do tempo

da rosa dos ventos
do quadrado em que circulo.

Agora, escaleno

subo a escada de cupins
para os fins que contemplo

[dos insumos no capim pela raiz]

sábado, 25 de julho de 2015

REVISITA 76: ALADO

Um muro súbito teria erguido
Ou este hiato é o abismo abrindo
Rachando o piso?
(pergunto, ruflando as asas)

As nossas coisas escuras
Embora às vezes pontiagudas
Amo sem arestas - de graça;

Embora contraditórias
(talvez porque delicadas)
Amo-as claras - paradoxalmente
Sem dores, pendores ou amarras.

Mas enquanto eu dormia, abraçado
Às certezas que o teu corpo trazia
Tais coisas se fizeram prisioneiras
De prozaques, efexores, aropaxes:

- a neurotransmissora guerrilha
promessas guarda datadas
qual dia das mães - o que delas não teríamos

da felicidade de branco vestida
laboratorialmente obtida
encapsulada?

Química da alma que vaza
Torpor que beijo algum desperta
De beleza adormecida...

27/08/2002

sexta-feira, 24 de julho de 2015

SEXTA, 24

maio, 17

segunda, 14

julho, 29

quinta, 27

fevereiro, 8

domingo, 1º

outubro, 32...

Quantos calendários

- tanto os necessários
(a favor, contrários)

quanto os arbitrários
(com itinerário)

e os involuntários
(esses, temerários) -

que o tempo oferecer
no espaço de viver

terei de perecer?...

quinta-feira, 23 de julho de 2015

AS LEIS DO IÊ-IÊ-IÊ

na pedagogia da cenoura

{ei-las:}

1. instrução
ensino
educação

é (sic) motivação
motivação
mo-ti-va-ção:

- motivação
para participação.

1(b). participação
- é instrução;

1(c). instrução
- é ensino;

1(d). ensino
- é educação;

1(e). educação
- é lazer;

1(f). lazer
- é entreter;

1(g). entreter
- é prazer;

1(h). prazer
- é felicidade;

1(i). felicidade
- é motivação:

- motivação
para participação nos processos e seus resultados.

{questões (im)pertinentes:}

(mas, e quanto ao resultado dos resultados?)
[e quanto ao(s) termos/efeitos/derivações/consequências
do resultado dos resultados?...]

{assim sendo}

x. qual daqueles sempre é cedo?
(o que deles vem primeiro?)

y. qual desses nunca é tarde?

[sua contabilidade?]

quarta-feira, 22 de julho de 2015

TECNOLÓGICA

Os meios

são os fins
dos meios

são afins
aos meios

são a fim
de meios...

São meios

o meio
dos meios:

- são o fim
dos meios

e o fim
dos fins.

[quanto aos fins

enfim...

(alheios)]

GAMIFICAÇÃO

na educação: questão

... enquanto virtual

(se meio virtual
para um fim real)

o quanto real?...

[se quando real]

GAMIFICAÇÃO II

na educação: lógica

Jogo:

- logo
posso.

Jogo:

- logo
passo

[de fase
de turno
de classe
de curso

de quase]

terça-feira, 21 de julho de 2015

VENTURA

Parada
(pintura)

mirada
[cintura]

corada
{puntura}

exalas

sacadas

floradas

exatas.

CONFEITARIA

Vandecira

natalícia

a delícia

do teu dia

(doceria)

[padaria]

{poderia}

todo dia!...

20/07/15

sábado, 18 de julho de 2015

REVISITA 75: TEZ

Esses dias lassos correm saturados
da tua presença; naturalmente a tua
tez escura, por sobre nossas farturas
sobe aos lábios quenturas, pernas e abraços...

Teu tempo absoluto, presente agora
corta-me dentro e fora; da carne exposta
reviro outras vísceras, antes de ativas
solvendo carências no gozo corrente...

Mas o irrevogável, maré recorrente
quase revoga-me; como se à lua nova
se pedisse estagnasse a água grossa
que sal tortura uma velha queimadura...

O velho à tarde, indo destarte - que importa?
Cedo eu gostaria de outros dias e horas...

(esta nudez, antiga
face a tua tez, por ora
na verdade, saliva
rediviva, jaz morta)

30/08/2001

sexta-feira, 17 de julho de 2015

INSONOLÊNCIA

Nesta estadia
da calmaria

(noites e dias
de calmaria)

[sem vento ou brisa
pois calmaria]

o que haveria?

O que teria
tal calmaria?

O que seria
(definiria)

bem calmaria?

(dela veria
que acalmaria?)

Que pensaria
(em calmaria)

dessa estadia
sem vento ou brisa?...

[na calmaria
à noite há dia:

- pernoitaria
anomalia

que o dia adia
e a noite expia]

***

{o que teria
tal calmaria

a ver com minha?}

quinta-feira, 16 de julho de 2015

KAMIKAZE

uma afinidade

... avindo
talvez calhe

tão lindo
do teu talhe

ubíquo
o rebrilho

de um detalhe:

- dois entalhes
oblíquos

sumindo
sorridos

de tua face.

terça-feira, 14 de julho de 2015

INTERGERACIONAL

Vozes dos descendentes
que em mim falam, crescentes
no seu frescor recente;

vozes adolescentes
que a mim faltam, descrente
do favor da corrente

dizem pedir, ardentes
ao futuro silente

que eu não me assuste, à frente:

- não será diferente
do que foi, finalmente
com quaisquer ascendentes.

segunda-feira, 13 de julho de 2015

REVISITA 74: NO ESPELHO

É esta a sala de espelhos
onde te buscando venho

nas ondas entre reflexos
quando disso nada tenho

(em que nada disso fico)

- nas confusões meio perdido
das pororocas que te agito...

No entanto atento o quanto
remanescerei todo

alheio admirando
o que oco e luminoso

esvazia do insosso
recheio a tua espuma?...

11/04/1999

domingo, 12 de julho de 2015

QUEREIS MAIS?

when enough is never enough

Sempre mais!
Sempre mais!

Nunca é mais!
Nunca a mais!

- ademais
algo a mais

é demais?

(um a mais
dois a mais
três a mais

não cessais?)

[dez a mais
cem a mais
mil a mais

não contais?]

Sempre mais
nunca é mais!

{dedo e mais
mão e mais
braço e mais

eu jamais}

sábado, 11 de julho de 2015

REVISITA 73: GAROTA SÉRIA A PASSEIO

Vejo a gêmea da garota da lua
pés de mimo retos pela rua
num passo, acho, de um lugar passado
que ainda pressinto;
canto de alameda colorida de menino
que tornei cinza;
sonho róseo dos meus olhos
desbotado no azar dos meus óculos...

A moça que leve andava, caraminholada
tão agora concentrada, penso, absorvida
(seria a mente minha?)
passa rápida, a mover-se tão precisa
(e à minha imaginação torcida)
que parece jogar, num já indo pela vida
a próxima cartada - garota danada!...

Sua fronte ruiva riscada (preocupada?)
faísca sob o sol, cega a minha vista
(mal acordada)
da imagem mais alva, deusa mais grega
quanto enfim irreal;
quando assim a vejo, uma criatura de marcas
ondula concreta, a tempo de garras...

[mas como a pressinto funda, e pura
driblando o lado escuro da lua
importa nada: apesar de mim, de ruas
de pesadelos, horrores, loucuras
a cartada é sempre dela, tua; e toda a vida]

26/07/1998 

sexta-feira, 10 de julho de 2015

BRASILIENSE

poema sobre a estação seca

Ouro brilha
de planilhas

pela ilha
das vasilhas:

- da côncava
grã-matilha

à convexa
camarilha

rabadilhas
encarquilham

de quadrilhas
que encorrilham

armadilhas
e partilhas...

quinta-feira, 9 de julho de 2015

REVISITA 72: SETAS

três haicais

O meu quarto
acordou suado
o teu verão.

***

De que arco
refez-se à frente
o ar riscado?

***

A seta cede
da seda tua
a nua pele.

1997

quarta-feira, 8 de julho de 2015

VELHO CAVALO A DOMAR

da luta que reluta

Como cuidar de um corpo
contra si, de alma e corpo?

Como movê-lo agora
cedo, que é boa hora?

Como ter provimento
antes de vê-lo ao vento?

Exercitá-lo um pouco:

- exercitar o corpo
como se fosse idoso?

...

Antes que a alma o deixe
resfriado como um peixe

1. gerar primeiro um passo
(o mais difícil ato);

2. encaminhá-lo a marchar
(é mais fácil, de fato);

3. evoluí-lo até trotar
(mas galope, nem pensar)

[velho cavalo sem ar]

terça-feira, 7 de julho de 2015

REVISITA 71: RUIVA ORQUÍDEA

Enfocar, e abordar, e estudar.
Anatomizar.
Transparecer, desdizer...

Classificar o caleidoscópio floral semeado
por um par divino de lábios
no sapo pródigo do princípio:

- perderá seu mágico encanto, metafísico
se sob olhar raso, analítico - de óculos?

Talvez outras cores. Mas não a flor dos meus ósculos
de zangão; de perfumes e amores
(de feição irredutível, natureza insubmissa)
alheios a razões que não as das paixões.

Ruiva orquídea, excêntrica - flor de única formosura
túmida, terapêutica beleza - capricho em minha estufa

síntese indizível dos cheiros e humores
(e odores de jardineiros)
do Éden primeiro das criações...

06/07/1997

IN THE MIDST OF WINTER

Uma tarde calorenta
à vontade e desatenta

cai pesada sobre a mesa.

É uma tarde fraudulenta
que nos arde e desalenta

a que estraga a sobremesa:

- nem que ensolarada seja
ou nublada se arrependa

se poeira esquenta - é poeirenta!...

QUE O MÉTODO DURE

e o tolo perdure

Sonhei que cairia
que suicidaria

(a vida caíra
depois se acabara);

mas sonho não mata
(sua cova é mui rasa)

- e assim percebida
a queda não vinha;

e como não veio
(sou eu que o descrevo)

que sinto, que penso
do tempo suspenso?

Se é sonho lógico
se é pedagógico

- tentativa e erro?

[se for pesadelo
tentativa que erro?...]

segunda-feira, 6 de julho de 2015

QUADRA (QUASE) RETIRADA

... este cotidiano banal-burguês

em vão citadino, tão descortês

- quisera não querer mais seu freguês!

[pudera aposentar-me de uma vez!...]

HAJA DÊ-ERRE CONSIGO MESMA!...

Vamos falar de expectativas.
Conversar sobre expectativas:

- aquilo entre nós que recíproco
é mutuamente respectivo.

Vamos tratar de expectativas.
Cuidar de conciliar diferenças

nas costas largas desta querença:

- diferenças de crença, descrenças
de personalidade, nascenças
de projeto, vontades, ensinos;

- diferenças de classe, partidos
de transporte, passagens, destinos
recursos, escolhas, equívocos

da longa lista constitutivas.

[no tatibitate dos corações
redesenhando infantis soluções

cuidemos de operar seus sentidos
(de vedar de olhar seus orifícios):

subtrair, dos cafés, cafunés
rodapés a trair parangolés]

domingo, 5 de julho de 2015

ANIMA MORTIS

O desânimo
pusilânime

que me acomete

magnânimo
faz-se equânime:

- o que oferece
do que promete

(que se repete)

por exânime
não acontece.

sábado, 4 de julho de 2015

REVISITA 70: SOBRE O MEU AMOR POR TI

Se o que existe de bom na vida

perdura em alguma florada eterna

num canto de galáxia,

buscarei, e trarei a água azul-clara

que lembrar-te-á, e às rosas da tua sacada

o que existe de bom na vida.

O que perdura em alguma florada eterna

num canto de galáxia.

03/07/1997

sexta-feira, 3 de julho de 2015

POESIA TEMPORAL

... oito e trinta e quatro
da manhã divinal!...

(da manhã ancestral)

[do amanhã eternal]

{de manhã, habitual}

... oito e trinta e cinco
pelo açúcar e o sal...

(pouco não fará mal)

... oito e trinta e sete
e um sol fenomenal...

... oito e trinta e oito
(que farei, afinal?)...

... oito e trinta e nove...
... oito e trinta e nove...

... oito e trinta e nove...

quinta-feira, 2 de julho de 2015

PELA DEMOCRACIA

contra a plutocracia

A dívida grega.

A lívida grega

da foto funérea

(mulher de beleza).

[cadê deusa Atena?

Leônidas? Péricles?

suas efemérides?]

A dívida etérea

(qual dívida aérea)

- e a dúvida pétrea.

Que a dúvida grega

rejeite quem pensa

(da Helena que ajoelha)

que a Grécia já era!...

quarta-feira, 1 de julho de 2015

REVISITA 69: O CANTAR DA HORA PRÓXIMA

Sob o troçar das nuvens, a conversa com o tempo
Ora calma ou sibilante, vez tronante, acareada
Converte-se, na calçada, meu passo ao léu do vento
Em tardes de pensamento, contigo e um sol brilhante;

Mas quando o clima hesita - e a brisa, então tão tímida
Mal caminha - num momento esquecido de venturas
Toca o rosto dos teus dedos meu medo de perdê-los
Embora fina a chuva, sob um céu último de ilha;

O ser crestado que briga contrafeito a tua falta
Cansado dos pedaços travestidos de certezas
Quer a paz das inteirezas - o rito dos abraços;

O ar frio que anoitece o entardecido no horizonte
No desvão da lua, pela costura das estrelas
Enternece, da líquida memória - o fim da chuva...

02/07/1997

segunda-feira, 29 de junho de 2015

REVISITA 68: BRINCOS DE ANIVERSÁRIO

Para ornar o sorriso
Dos teus olhos

E as covas onde o meu desejo
- beijo - se perde

(e aparar o que ouves
da música desigual do mundo)

Dois pedaços de lua prata
Seis janelas do fundo azul.

17/06/1997

SERÁ FALTA DE VINHO?

Há um desespero fino
neste sofá de linho

nesse sofá de vinho
que emborco acontecido.

Nesse sofá tecido
de linho amarelado

por desesperos idos
(depois de amarelados)

há um desespero, creio
(receio exasperado)

de falta de sentido.

De um significado
que, bem acomodado

possa, bebericado
ser enfim digerido

ao invés deste hiato
desse vácuo emborcado;

que possa ser sentido
ao invés de, sentado

dissolver-se, pensado
que deveria, vivo...

terça-feira, 23 de junho de 2015

REVISITA 67: GAROTA DE LUA

A menina dos meus olhos não é tão loira
Nem parece assentada.
Mas acredite! É gêmea da garota da lua:
- tem a mente tão caraminholada
quanto dourada, e pura.

Esvoaça entre véus, espreguiçada
Da mesma forma, no banco da rua:
- se sob o sol, imagem tão ruiva
ou enluarada, grega coluna
(alva de tanta brancura)

Não importa: captura a alma num anseio
Que não é mais desejo
- é sonho e loucura!...

02/06/1997

DA RAZÃO MECÂNICA

de estelar distância

Claridade tanta
(matematizada)

de extração quântica
(teórica, aplicada)

na vida penada
(tida cartesiana)

nessa nossa escala
(larga a observância)

escurece os quanta:

- quando e como o quanto?...

- de onde, aonde o plano?...

- quem o quê, portanto?...

[porque, por enquanto
(onda ou partícula)

pouco cotidiano
tampouco ilumina]

domingo, 21 de junho de 2015

SERÁ QUE SAIO?

Nublada e frienta
seca e opaca

passada lenta
(lesa e coçada)

parada esteja:

- manhã de lesma
lamber a pedra

(manhã da mesma
correr depressa)

sábado, 20 de junho de 2015

A ESPIRAL VITAL

É doce esta lembrança
de quando fomos crianças

e éramos só esperança...

Adiante, a recordação
da adolescência em ação

(embora a sua história, não).

Futuros, quando à frente
dispõem-nos diferente

de agora, vãos presentes...

Agora, aquela idade
distante das vontades

(distante da verdade
próxima das vaidades)

impõe-se realidade
picada de saudades;

e o desencanto que vem
o escatológico trem

- é a estação também, meu bem!...

...

[o desenlace, depois
tudo trivializa, pois

não se trata de nós dois]

quinta-feira, 18 de junho de 2015

MAS SERÁ POR QUÊ?

Ando cansado

passo cansado

corro cansado

vivo cansado

morro cansado.

(ando cansado
mas não sei do quê)

[corro cansado
e não sei pra quê]

{irei cansado
mas não de você}

REVISITA 66: DENVER INTERNATIONAL AIRPORT

Se é a mim que mira
teu turbilhão de dúvidas
aquém do mar bravio

- refém da noite escura
da bruma espessa
da vida turva

apague a chama
tome a harpa
bata as asas!

No outro, vasto
lado do continente

(a pé de um pesadelo)

meu sonho-aeroporto
aparará teu vôo

pelo raiar do dia...

02/06/1997

quarta-feira, 17 de junho de 2015

MINHA NETA

A Cecília
conhecida

- a mais bela
- a mais linda
- a mais lida

que poetisa
(senão poeta)

- foi menina
ou moleca?

- foi boazinha
ou sapeca?

- se Cecília
(pois sabia)

mais querida?...

***

A Cecília
que vem vindo

- se poética
ou prosaica

- se moderna
ou arcaica

- ascética
- hedonista

- profética
- niilista

da delícia
tão bem-vinda
que pressinto

é a primícia!...

REVISITA 65: VARAL

A leveza aérea, nervosa, ligeira
com que penduras no futuro o meu presente

(na hora transitória de lua insinuada
entardecendo um tempo sem lugar)

convida certo olhar, que a mim já não pertence
a estender o horizonte, ou ao ventre retornar

***

Minha dúbia natureza vibra a freqüência
do bater elétrico de tuas asas
(o cuidado alegre de tuas lides);

entre as tuas antenas, sob a ruiva coroa
conjugam-se no espírito as tuas idéias
(rosário eterno que à minha vida ocupa)

***

Nas asas de vidro, janelas para o infinito
(fendas por onde passo) um pássaro calo
à noite espantado (nem tanto do espaço)

sob a tenda estrelada onde voa, etéreo
(a pretender teu ventre no leito do horizonte)
num governo que a mim já não pertence...

25/05/1997 

TRANSIÇÃO

o papel branco
a tela branca
caneta branca
teclado branco

o papel brando
a tela plana
caneta manca
teclado quando

o papel suja
a tela pena
caneta vaza
teclado pifa

no papel penso
da tela sinto
caneta tento
teclando minto

o papel dança
a tela avança
caneta cansa
teclando ranço

terça-feira, 16 de junho de 2015

ELAS FOGEM DE MIM

Às pencas, elas somem de mim.
As palavras. E somem assim

- sentidos de frases, sentenças
em versos de estrofes de poemas

quando meu fracasso em lavrá-las
(jazidas ou fertilizadas)

deteriora, indeterminado
indefinindo, incerto e vago

talvez do cansaço - o que faço?

...

Anteontem. Ontem, por exemplo
sumiram. Parecia que iam

em meio a um lamento do tempo
exausto - como em desavenças

expelindo tal descontento
do que significariam.

...

Porque as mediocrizo lavradas
palavras em vão, são difíceis:

- o talento a menos faz crível
seu crivo tampouco acessível.

segunda-feira, 15 de junho de 2015

domingo, 7 de junho de 2015

sexta-feira, 5 de junho de 2015

A PREFERÊNCIA É MINHA

embora relativa

Pergunto, vez em quando
sobre Leo e Cristiano.

Me perguntam, todo ano
entre Messi e Ronaldo

- com quem a mais me encanto?

Embora a preferência
entre a força e a magia

por tal arte ou qual ciência
mais futebolística

seja somente minha

a minha (in)competência
cria e conclui infinda:

- mais importa quem, do alto
ao outro, alça mais alto!...

REVISITA 64: PRINCIPESCA

Sob a chuva intensa, parede de um céu desmoronando,
Alagada inteira a floresta, prenhe, inchada de oceanos,
Meu olhar batráquio, encantado, boiando vítreo, extático,
Pétreo te contempla borboleta, princesa dos meus sonhos!...

Sob um cogumelo envergado, no suspenso espaço,
Suspendo as palavras - encerrada a bocarra enigmática
Em dúvidas - embora às tuas asas, submissas borrifadas
Destile, principescas - colar de caricatas gentilezas...

O sapo sapo! que sou aguarda, paciente,
Um arrastar teu de asa, sapiente?
Antes que passe a água, e a borboleta espreguice;

O sapo príncipe? que não pareço barganha, pedinte,
O teu ósculo improvável, haja sapo a engolires
Entre os vários verdes pétreos que remanescem...

23/05/1997

quinta-feira, 4 de junho de 2015

quarta-feira, 3 de junho de 2015

REVISITA 63: CLARA AINDA DESERTA

Às vezes pressinto, quando alço a vista acima
Da rotina quase prazerosa, pacífica cotidiana,
O que de mim surpreso ainda não veio:

- um gesto cego, no espelho outra sombra
indo além do silêncio leve e tranqüilo
que hoje desfalece poeirento.

Às vezes penso, quando meço o tempo à frente
Do deserto luminoso atravessado na garganta,
No que de ti terá de vir, veio d'água em terra seca:

- a umidade das saliências, o suco das reentrâncias,
a promessa que a fotografia toda sorriso antecipa
do que hoje me impele a braçada na areia.

Amor, às vezes acho que sou tão teu,
Binóculo tão enfocado no que é teu,
Que te enxergo clara, duna ensolarada,
Nos grãozinhos da areada vida esfarelada;

Amor da foto quase poeira sobre a mesa,
Da bruma cega da promessa ainda futuro,
Traga a surpresa-oásis do vir-que-veio-mesmo!
Ao espelho vislumbrado quando alço o eu acima...

19/05/1997